Operação contra desvio de recursos públicos mira outros membros da família Miranda

Grupo teria desviado dinheiro por meio de contratos com empresas da família o ex-governador Marcelo Miranda. Nesta fase são apurados prejuízos de R$ 50 milhões.

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A operação Urutau, deflagrada nesta terça-feira (1º) pela Polícia Federal, tem entre os alvos outros membros da família do ex-governador Marcelo Miranda (MDB). A ação busca apurar desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro, supostamente ocorridos durante os mandatos do ex-governador.

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Conforme as investigações, os investigados desta fase da operação teriam agido como laranjas e testas de ferro de Marcelo Miranda para esconder capitais. são apurados prejuízos de R$ 50 milhões aos cofres públicos.

Os três mandados de prisão autorizados pela 4ª Vara da Justiça Federal são contra Luciano de Carvalho Rocha, primo de Marcelo Miranda, e a esposa dele Kamile Oliveira Salles; além de Guilherme Costa de Oliveira, suposto laranja. Estes três também são alvos de ordens de busca e apreensão.

Guilherme Costa – Foto: Reprodução

Em sua decisão, o juiz João Paulo Abe também determinou buscas nos endereços de Marcelino Leão Mendonça, cunhado de Marcelo Miranda, e da construtora Construarte. Foi determinada ainda a quebra do sigilo bancário de todos estes investigados.

Kamile e Guilherme foram liberados após passar por audiência de custódia. Apenas o primo do ex-governador Marcelo Miranda, Luciano de Carvalho Rocha, continua preso.

O juiz federal João Paulo Abe, que tinha autorizado as prisões preventivas, entendeu que Guilherme e Kamile prestaram todos os esclarecimentos necessários. Além disso, a mulher também possui dois filhos menores de idade.

Investigação

Essa investigação busca apurar parte de um esquema sofisticado de lavagem de dinheiro, revelado pelo delator Alexandre Fleury Jardim em uma delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

“O delator revelou sucessivos atos de apropriação de recursos públicos, seguidos de atos de lavagem de capitais, mediante a colocação de bens e propriedades imobiliárias em nomes de interpostas pessoas, físicas e jurídicas, entre elas, o próprio delator”, diz trecho da decisão.

Conforme a Polícia Federal, a operação Urutau, busca aprofundar as investigações da operação Reis do Gado, em relação a um eixo da organização suspeito de desviar dinheiro de contratos públicos. Esses desvios supostamente eram feitos por meio das construtoras WTE Engenharia e Construarte, ligadas à família Miranda e beneficiadas com contratos milionários durante o governo de Marcelo Miranda.

De acordo com a investigação, a WTE Engenharia estava formalmente no nome do primo do governador, Luciano de Carvalho e de Marcelino Leão Mendonça. Porém, após a operação Reis do Gado, as atividades dela foram dissipadas e passaram a ocorrer sob a estrutura da Construarte, que foi registrada no nome de Guilherme de Costa Oliveira, mas seria controlada por Luciano.

Para a PF, Guilherme Costa era ‘laranja do laranja’. “Todos estes eventos evidenciam uma tentativa de mascarar o controle efetivo e dificultar a apuração das ilegalidades ocorridas em sua atuação, principalmente, nas contratações por ela firmadas com o Estado do Tocantins, sempre por cifras milionárias, durante o período em que Marcelo Miranda estava no comando do governo”, diz trecho da decisão.

Os três alvos foram presos durante a manhã desta terça-feira (1º) e estão passando por audiência de custódia na Justiça Federal.

O que diz a defesa

O advogado da família Miranda, Jair Alves Pereira, disse que está elaborando recurso para, ainda nessa semana, entrar com pedido de liberdade de Marcelo Miranda e do irmão dele, Brito Miranda. O G1 ainda tenta contato com as defesas de Luciano de Carvalho Rocha, Kamile Oliveira Salles, Guilherme Costa de Oliveira e das construtoras citadas nesta reportagem.

Marcelo Miranda

O ex-governador Marcelo Miranda e o irmão dele José Edmar Brito Miranda Júnior estão pressos há cinco dias. O pai deles, Brito Miranda, chegou a ser preso, mas pagou fiança e saiu da prisão. A prisão deles ocorreu durante a operação 12º Trabalho, realizada pela PF na semana passada.

Foto: Divulgação

Segundo a Polícia Federal, Brito Miranda e Brito Miranda Júnior funcionavam como pontos de sustentação para “um esquema orgânico para a prática de atos de corrupção, fraudes em licitações, desvios de recursos, recebimento de vantagens indevidas, falsificação de documentos e lavagem de capitais, cujo desiderato [finalidade] era a acumulação criminosa de riquezas para o núcleo familiar como um todo.”

Os investigadores concluíram que os atos ilícitos eram divididos em sete grandes eixos, envolvendo empresas, fazendas, funcionários públicos e laranjas, “que se relacionavam organicamente entre si para o desenvolvimento exitoso das atividades criminosas, mas que funcionavam como grupos formalmente autônomos e independentes, sempre apresentando Marcelo Miranda, Brito Miranda e Brito Júnior como elo de ligação”.

A decisão aponta ainda que, durante as investigações, foram verificados episódios de falsificação de escrituras públicas e registros de imóveis vinculados à família para promover a ocultação e blindagem patrimonial. Também há indícios de ameaças a testemunhas, compra de depoimentos e destruição de provas.

A investigação ainda apontou a utilização de equipamentos de contrainteligência para dificultar e impedir a investigação pelas autoridades policiais. “Assim como a rara utilização do sistema bancário legalizado, consoante teria restado claro a partir do insucesso das medidas de bloqueio determinadas pelo eminente ministro Mauro Campbell Marques”, diz a decisão.

A operação 12º trabalho apresentou diversos detalhes das investigações contra a família Miranda, como um suposto presente dado ao ex-presidente do Tribunal de Justiça, dossiês feitos contra policiais e até suposto envolvimento da família com assassinatos e atos de tortura. O grupo até teria pago por uma denúncia contra o adversário político de Marcelo Miranda nas eleições de 2014.