Vídeos mostram depoimentos de pai e filho momentos antes de serem executados dentro de delegacia em Miracema do TO

Local foi invadido por 15 homens encapuzados. Eles eram pai e irmão do suspeito de ter matado o sargento da Polícia Militar, Anamon Rodrigues de Sousa, de 38 anos.

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Vídeos que a reportagem teve acesso mostra mostram parte dos depoimentos de Manoel Soares da Silva, de 67 anos, e do filho dele, Edson Marinho da Silva de 37 anos, momentos antes de serem mortos dentro da delegacia de Polícia Civil de Miracema do Tocantins. Os homens eram pai e irmão do suspeito de ter matado o 2º sargento da Polícia Militar, Anamon Rodrigues de Sousa, de 38 anos. Eles foram executados por 15 homens encapuzados e armados que invadiram o local

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O suspeito de matar o policial, Valbiano Marinho da Silva, de 39 anos, também foi morto. Horas depois outros três homens foram encontrados mortos com perfurações. Em poucas horas, sete pessoas foram assassinadas na cidade. A sequência de crimes aconteceu depois da morte do PM.

Os vídeos dos depoimentos mostram o que pai e filho disseram ao delegado plantonista José Lucas Melo da Silva. Em um trecho, o idoso diz que ouviu os disparos na porta de casa e viu um dos filhos pedindo socorro. Assista o vídeo:

Delegado José Lucas Melo da Silva: Houve um conflito, primeiramente no qual foram baleados o Edson, filho do senhor, né que foi atingido por um disparo, e um policial militar o sargento Anamom, que terminou vindo a óbito. O senhor recorda mais ou menos que horas foi que começou esse tumulto lá na frente da sua residência?

Manoel Soares da Silva: Doutor, para lhe falar a verdade eu não recordo muito bem porque eu estava lá para dentro de casa para bem dizer, deitando na minha cama, quando escutei só o barulho. Só o barulho para o lado de fora. Para lhe dizer. Se eu disser que eu vi esse problema eu estou mentindo para o senhor. Eu nem sei que horas foi também. Nem prestei atenção no celular.

Delegado: Certo. E depois desse barulho o senhor chegou a sair para ver o que é que tinha acontecido?

Manoel Soares da Silva: Eu saí para ver e já encontrei o meu menino derramando sangue lá na área, lá em casa. ‘me acode, me acode, me acode’. Somente.

Outro vídeo mostra o que o Edson Marinho disse ao delegado. O homem contou que um grupo armado que estava em uma área de mato atirava na direção da casa do pai.

Delegado: Você foi atingido com um disparo de arma de fogo hoje?

Edson Marinho: Sim, senhor.

Delegado: Como é que foi esse tiro? Aconteceu onde isso aí, Edson?

Edson Marinho: Esse acontecimento aconteceu na casa do meu pai.

Delegado: Dentro ou fora?

Edson Marinho: Foi fora. Eu moro em uma casa abaixo, na mesma rua e eu escutei aquele mundarel de tiro e sabe como é filho. E eu corri para lá para ver o acontecimento e corri para a frente da casa lá e tinha um pessoal dentro do mato. Meu pai tem um plantio de mandioca, tinha um pessoal atirando de dentro para fora. E uma bala dessa pegou logo em mim. E fui direto para o hospital.

Delegado: Tu foi atingido por quantos disparos?

Edson Marinho: Só um. Na perna. Na coxa esquerda.

Delegado: E esse pessoal que estava atirando você disse que estava no mato?

Edson Marinho: Estava no mato. Esse pessoal estava no mato.

Delegado: Tu chegou a ver quantas pessoas?

Edson Marinho: Eu não vi. Foi comentado pelo pessoal que estava lá. Os vizinhos viram também um carro parado com dois homens dentro.

Conforme o registro da ocorrência, por volta das 6h29 de sábado, cerca de 15 homens encapuzados e armados com revólveres e armas longas invadiram a delegacia de Miracema, renderam agentes da Polícia Civil e executaram Manoel e o filho Edson com vários disparos.

Pai e filho haviam passado a madrugada na delegacia e tinham sido liberados, mas estavam aguardando o dia amanhecer para voltarem para casa com segurança, segundo consta no B.O.

Sequência de mortes

A sequencia de mortes começou por volta de 21h50 de sexta-feira (4). O sargento da Polícia Militar Anamon Rodrigues, que atuava na Agência de Inteligência da PM, tinha ido até o setor Novo Horizonte II fazer um levantamento de crimes na região para subsidiar operação da Polícia Militar a ser realizada neste sábado.

Conforme as informações, houve uma troca de tiros e o sargento foi baleado nas costas. Ele chegou a ser socorrido e levado a um hospital, mas não resistiu.

Foto: Divulgação

A PM afirma que realizou buscas na casa dos suspeitos e localizou uma arma, possivelmente usada no crime. Por causa disso, conduziram Manoel Soares da Silva e o filho dele, Edson Marinho da Silva, para a delegacia.

A corporação afirma ainda que quando os policiais estavam na unidade policial receberam a informação de que outro filho de Manoel tinha sido morto por disparos de arma de fogo na casa da família. No boletim de ocorrência, ele foi identificado como Valbiano Marinho da Silva, de 39 anos.

A versão da PM é contestada pela mãe de Valbiano, a dona de casa Maria do Carmo Paula. Ela afirma que o filho estava algemado quando foi morto por policiais em casa.

Conforme consta no registro da ocorrência, cerca de 15 homens encapuzados e armados com revólveres e armas longas invadiram a delegacia de Miracema, renderam agentes da Polícia Civil e executaram Manoel e o filho Edson com vários disparos. Eles haviam passado a madrugada na delegacia e tinham sido liberados, mas estavam aguardando o dia amanhecer para voltarem para casa com segurança.

Além dessas três, outras mortes foram registradas na cidade. Por volta das 10h deste sábado, três corpos foram encontrados no Loteamento Jardim Buriti. Os homens tinham perfurações pelo corpo, provavelmente ocasionados por arma de fogo. Conforme as informações no boletim, as vítimas são: Aprigio Feitosa da Luz, Gabriel Alves Coelho e Pedro Henrique de Sousa Rodrigues.

Foto: Divulgação
Laudos periciais

Os laudos preliminares sobre as mortes dentro da delegacia de Miracema do Tocantins revelam detalhes de como os crimes aconteceram. Os exames concluíram que Manoel Soares da Silva, de 67 anos, e o filho dele, Edson Marinho da Silva de 37 anos, receberam ”incontáveis’ tiros de vários calibres. Os dois foram assassinados após 15 homens encapuzados invadirem a delegacia da cidade.

Ainda de acordo com os laudos preliminares, o sargento Anamon Rodrigues levou um tiro de uma arma calibre 22. A bala entrou pelo tórax e subiu rumo ao pescoço rompendo várias artérias. Ele morreu após sofrer um choque hipovolêmico, que ocorre quando há grande perda de sangue e o coração deixa de conseguir bombear sangue para o resto do corpo.

Já Valbiano Marinho, suspeito de atirar no sargento, foi morto com um tiro no crânio. A Polícia Militar disse que não há informações sobre quem seria o autor ou os autores desse crime. Já a dona de casa Maria do Carmo Paula, mãe de Valbiano, contesta a versão PM informou. Ela afirma que o filho estava algemado quando foi morto por policiais em casa.