PMs são denunciados por torturar, tentar matar major e dizer para família que ele estava internado por Covid

Segundo o MP, major foi torturado durante três dias durante um curso do Batalhão de Operações Especiais (Bope), em Hidrolândia.

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Um major da Polícia Militar foi vítima de tortura e quase morte por parte de policiais militares durante um curso do Batalhão de Operações Especiais (Bope) em Goiás, conforme denúncia do Ministério Público de Goiás, os PMs ocultaram o major de sua família e simularam que ele estava infectado com Covid-19.

Em abril deste ano, o MP denunciou sete policiais militares pelos crimes de tortura e tentativa de homicídio qualificado contra o major, após investigação da Corregedoria da PMGO.

Os crimes ocorreram em outubro de 2021 e permaneceram em sigilo desde então. A assessoria do Tribunal de Justiça de Goiás não pôde confirmar se a denúncia foi aceita pelo Poder Judiciário, devido à confidencialidade do processo.

Em comunicado, a Polícia Militar de Goiás informou que o inquérito policial militar sobre o caso foi encerrado e encaminhado à Justiça Militar. “A PMGO reafirma seu compromisso com o cumprimento da lei e a colaboração com as autoridades judiciais”, concluiu.

Confira abaixo os crimes pelos quais cada policial militar foi denunciado pelo Ministério Público:

  • Coronel Joneval Gomes de Carvalho Júnior: Comandante imediato da vítima junto ao Comando de Missões Especiais, denunciado por tentativa de homicídio qualificado e tortura por omissão;
  • Tenente-coronel Marcelo Duarte Veloso: Comandante do Bope e diretor do Comando de Operações Especiais (Coesp), denunciado por tentativa de homicídio qualificado e tortura por omissão;
  • Coronel David de Araújo Almeida Filho: Médico do Comando de Saúde, responsável por atuar no local do curso, denunciado por tentativa de homicídio qualificado e tortura por omissão;
  • Capitão Jonatan Magalhães Missel: Coordenador do curso do Bope, denunciado por tentativa de homicídio qualificado e tortura;
  • Sargento Erivelton Pereira da Mata: Instrutor do curso do Bope, denunciado por tortura;
  • Sargento Rogério Victor Pinto: Instrutor do curso do Bope, denunciado por tortura;
  • Cabo Leonardo de Oliveira Cerqueira: Instrutor do curso do Bope, denunciado por tortura.

Os representantes da defesa do sargento Rogério Victor e do tenente-coronel Veloso, respectivamente, afirmaram que não podem comentar sobre o processo devido ao sigilo e que não tiveram acesso à denúncia em questão.

Em comunicado, a defesa de Marcelo Veloso negou todas as acusações da denúncia, alegando que a suposta vítima teve complicações devido à participação no curso de operações especiais e recebeu assistência médica imediata dos acusados. A defesa argumentou que não há indícios de crimes e que o acusado colabora com as investigações.

Os demais advogados não responderam até o momento.

Detalhes da Tortura

O documento, assinado por três promotores diferentes por questões de segurança, descreve que o 12º Curso de Operações Especiais do Bope começou em 13 de outubro de 2021, com atividades em uma fazenda em Hidrolândia. Durante o curso, os alunos, incluindo o major, foram submetidos a diversos exercícios físicos extenuantes e a situações de estresse psicológico.

PMs são denunciados por torturar, tentar matar major e dizer para família que ele estava internado por Covid
Foto: Divulgação

No dia 16 de outubro, o major foi alvo de agressões físicas violentas, que incluíram tapas, pressão psicológica, varadas, pauladas e açoites de corda em diversas partes do corpo, por três dias consecutivos. As agressões ocorreram até mesmo durante um “momento pedagógico”, ultrapassando os limites do curso.

O major, que era persistente e tinha alta patente, foi alvo de ainda mais violência na tentativa de fazê-lo desistir do curso. No entanto, ele não cedeu.

No dia 16 de outubro, o major passou mal devido às agressões e foi atendido pela equipe médica do Comando de Saúde, mas seu estado de saúde piorou rapidamente. Ele foi desligado do curso e levado ao Hospital de Urgências de Anápolis (Huana), onde entrou em coma profundo na ambulância.

No Huana, constatou-se que o major estava com uma lesão neurológica grave, além de rabdomiólise, uma condição que afeta os rins. No entanto, os policiais envolvidos no caso tentaram ocultar a gravidade da situação, esperando que ele morresse e pretendendo alegar que ele estava infectado com Covid-19.

Descoberta pela Família

Somente em 17 de outubro a esposa do major foi informada sobre a internação do marido. Ela soube do suposto diagnóstico de Covid-19 através de um amigo do major, já que a família não foi informada oficialmente.

Ao chegar ao hospital, a esposa encontrou o major sozinho, coberto até o pescoço em uma maca, e percebeu que ele não estava recebendo assistência médica adequada. Diante da gravidade da situação, ela decidiu transferi-lo para outro hospital.

Após muita insistência, o major foi transferido para o Hospital Anis Rassi, em Goiânia, onde foram constatadas lesões corporais graves e foi descartado o diagnóstico de Covid-19. No entanto, os policiais envolvidos na tortura tentaram destruir provas, incluindo a tentativa de acesso ao prontuário médico do major e a ocultação de informações à família.

Consequências

O major recebeu alta hospitalar, mas teve complicações de saúde devido à internação e permanece enfrentando sequelas, incluindo danos renais, fraqueza muscular nos braços e pernas, além de problemas emocionais causados pelo trauma e pelo sentimento de impunidade.

A defesa do tenente-coronel Marcelo Veloso negou todas as acusações e alegou falta de embasamento jurídico para os crimes imputados. Também argumentou que o major teve complicações de saúde devido à participação no curso e que o acusado colaborou com as investigações.

O processo permanece em curso, aguardando decisão judicial.