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O empresário Wilmondes Sousa Lira ganhou muita atenção após a prisão de Ronaldinho Gaucho e do irmão, Roberto Assis no Paraguai. O empresário, que também foi preso, é suspeito de ser um dos responsáveis pelos passaportes falsos que levou o ex-jogador e o irmão a serem detidos na quarta-feira (4).
O que trouxe o nome Wilmondes ao centro das atenções foi a declaração dada pelo diretor de investigação da Polícia Nacional do Paraguai, Gilberto Fleitas, após a detenção dos envolvidos. “Eles estavam em uma mesa jantando e disseram que quem facilitou foi o brasileiro Wilmondes Sousa Lira, que é de Brasília, que é conhecido pelos brasileiros”.
Mas, diferente da declaração, Wilmondes Sousa Lira, de 45 anos, não é tão conhecido do ex-jogador e do irmão. Natural de Porto Nacional, no Tocantins, o empresário é radicado em Brasília há pelo menos uma década.
Ele escolheu uma vida de privacidade e não possui conta em nenhuma rede social.
Mas o anonimato deixou de ser possível para Wilmondes na noite de quarta-feira, quando ele foi detido com Ronaldinho e Assis no hotel Yacht y Golf Club, na região metropolitana de Assunção. Segundo a defesa dos dois últimos, foi ele o principal responsável pela entrega dos documentos falsificados.
“Os irmãos têm documentos vigentes do Brasil para poder ir a qualquer parte do mundo, não necessitavam documentos paraguaios. Sousa Lira entregou os documentos no Brasil, não lembro da data, mas faz 20 ou 20 dias”, acusou Adolfo Marín, advogado local de Ronaldinho e Assis, ao jornal paraguaio ABC Color.
Na quinta-feira (5), o Ministério Público do Paraguai decidiu não acusar Ronaldinho Gaúcho e Assis, considerando que ambos “foram enganados em sua boa fé”. O órgão, no entanto, pediu a prisão preventiva de Wilmondes Lira e também acusou as paraguaias María Isabel Galloso e Esperanza Apolonia Caballero, donas dos passaportes e identidades adulteradas para os dados de Ronaldinho e Assis.
Depois a Justiça voltou atrás na decisão de decidiu não acusar o ex-jogador e o irmão, decretando a prisão dos dois e neste sábado (6), determinou a manutenção da preventiva dos dois que pode durar até seis meses.
O promotor Osmar Legal, que pediu a manutenção da prisão preventiva disse que Ronaldinho Gaúcho e Assis estariam envolvidos em outros crimes além da utilização de documentos falsos para entrar no Paraguai. Ele alegou o “risco de fuga e que o Brasil não extradita seus cidadãos”, em seu pedido.
Wilmondes é acusado pelos crimes de produção de documentos não autênticos, uso de documentos públicos de conteúdo falso e falsidade ideológica. Na sexta-feira (5), após ter escolhido o silêncio no dia anterior, ele deu sua versão do caso.
O empresário nega ter participado da confecção dos passaportes e identidades falsas e diz ter sido apenas intermediário do caso, com a função de levar os documentos ao Brasil. Segundo ele, a documentação foi solicitada por alguém ligado a Ronaldinho e seu irmão, Assis.
Empresário diversificado
Wilmondes Sousa Lira é registrado na Receita Federal como dono ou sócio proprietário de três empresas de ramos completamente distintos no Brasil: W & P Serviços de Limpeza e Comércio (ou Multserv, que oferece serviços de limpeza em prédios e domicílios), Global Assessoria e Soluções em Seguros (empresa seguradora de seguros de vida) e W.S. Lira Apoio Administrativo (ou Khronos Enterprise, que oferece serviços de transporte de passageiros e locação de veículos com motorista).
A sede dessas duas últimas, Global Assessoria e Khronos Enterprise, segundo registro da Receita Federal, indicam o mesmo endereço em Brasília: uma casa localizada em um condomínio residencial no setor de mansões Park Way, a cerca de 17 km do centro da capital.
Somados, o capital social das três empresas, segundo a atualização mais recente da Receita, é de R$ 449,8 mil reais. Delas, apenas a Multserv, localizada em Palmas, no Tocantins, encontra-se com situação inapta junto ao órgão, pela “omissão de declarações”.
Wilmondes também figura na lista de devedores ativos da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), com duas dívidas tributárias com valor somado de R$ 41,4 mil.
Ele responde a um processo na 2ª instância do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT) que corre em segredo de justiça. Além disso, é possível encontrar seu nome ligado a uma outra ação no Tribunal Regional do Trabalho de Tocantins (TRT-TO), que se encontra em suspenso desde 2015.
Vida em Porto Nacional
Wilmondes é natural de Porto Nacional onde viveu boa parte de sua vida até se mudar para Brasília. Ele viveu por muito tempo com a família no setor aeroporto e era bastante conhecido na região.
Nessa época, segundo conhecidos, o empresário não era lá muito discreto. Ele também já mostrava algumas ligações com o pais vizinho, sendo referência no fornecimento de produtos contrabandeados, principalmente whisky, do Paraguai.
Relação com Ronaldinho
Pouco se sabe até o momento sobre a proximidade entre Wilmondes e o staff de Ronaldinho Gaúcho. Ao que tudo indica, eles nunca foram próximos, e a relação repentina estaria ligada à empresária paraguaia Dalia López, presidente da Fundação Fraternidade Angelical, ONG responsável por um dos eventos que levou o ex-jogador ao Paraguai.
Dalia é amiga de Paula Oliveira Lira, esposa de Wilmondes. Em uma entrevista recente a revista “Caras”, da Argentina, a paraguaia cita Paula como uma das grandes incentivadoras de sua ONG.
Em agosto do ano passado, Dália veio a Brasília para uma cerimônia institucional no Senado Federal. Ela participou do evento de instalação do Grupo Parlamentar Brasil-Paraguai, cujo o presidente era o senador Eduardo Gomes (MDB-TO), hoje líder do Governo no Congresso.
Por serem conterrâneos do Tocantins, Eduardo Gomes possui relação direta com Paula e Wilmondes Lira. Segundo a assessoria de imprensa do senador, no entanto, trata-se de um contato institucional.
Na quinta, a Fundação Fraternal Angelical, de Dalia López, também negou ter qualquer envolvimento com as suspeitas da investigação. No Paraguai, a entidade é investigada por evasão e lavagem de dinheiro.
“A senhora Dalia López está à inteira disposição da Promotoria. A imagem do jogador ia ser usada para impulsionar uma campanha da fundação, não há nenhuma vinculação da empresária com os documentos”, afirmou Hugo Volpe, advogado da ONG.
O que diz a defesa do ex-jogador
O advogado brasileiro de Ronaldinho Gaúcho e Roberto Assis, Sergio Queiroz, afirmou que a prisão dos dois no Paraguai é “ilegal”. Em entrevista coletiva realizada neste domingo, em Assunção, ele disse que a detenção dos dois desrespeitou as leis paraguaias.
“É uma prisão ilegal pela qual estão passando os dois. Ilegal porque foram desrespeitadas, a partir de sexta-feira à noite, todas as prerrogativas processuais penais vigentes aqui no Paraguai”, afirma.
Queiroz criticou a decisão do juiz de solicitar um novo parecer do Ministério Público paraguaio. Na primeira versão, o órgão entendeu que Ronaldinho e Assis colaboraram com as investigações e, por isso, estariam livres para voltarem ao Brasil.
“A promotoria disse que não poderiam ser liberados para o país. O juiz não fez uma coisa nem outra, entendeu que o processo poderia continuar, mas que não haveria motivo para permanecer em solo paraguaio, não tinha o que investigar. Os próprios admitiram. Investigar mais o quê? Eles [Ronaldinho e Assis] saíram dali prontamente para pegar as malas e voltarem ao Brasil”, pontuou.
Questionado sobre o passaporte conter a informação de que os dois eram naturalizados paraguaios, Queiroz afirmou que Ronaldinho e Assis deram entrada no processo de naturalização. Por isso, acreditaram que portavam documentos verdadeiros.
“Roberto sabia que tinha solicitado [a naturalização]. Foi lhe oferecido para ter a naturalização de ambos paraguaia para terem o passaporte”, disse Queiroz. Segundo ele, foi explicado a Assis que com a documentação, ele poderia fazer mais negócios no país, o que o levou a aceitar a oferta de naturalização.
*Com informações do Globo Esporte e do UOL