Em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), o delator Alexandre Fleury disse que o ex-governador do Tocantins Marcelo Miranda vistoriava pessoalmente fazendas que estavam em nome de ‘laranjas’. Ele afirmou que o político exigia que todo o rebanho espalhado pelas várias propriedades fosse reunido para que pudesse ver o andamento do trabalho e que nestas ocasiões jogava pacotes de dinheiro para os peões que lidavam com o gado.
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A informação consta na decisão que autorizou a prisão de Marcelo Miranda, do pai e do irmão dele nesta quinta-feira (26). No documento, os maços de dinheiro estão descritos como ‘pequenos pacotes de cinquenta reais’.
A declaração foi dada por Fleury após ele admitir que algumas das propriedades rurais que estão no nome dele são na verdade da família Miranda. O delator afirmou ainda que as fazendas chegaram a reunir mais de 30 mil cabeças de gado no momento em que estiveram mais ocupadas. Um levantamento feito em 2009 localizou 19.787 animais em três destas propriedades, além de várias máquinas, veículos e até um avião modelo Sêneca III.
Uma delas é a fazenda Ouro Verde, no Pará, onde ocorreu um triplo homicídio que o delator também ligou à família Miranda. A propriedade fica em São Félix do Xingu e os crimes foram em 2013. Os autores seriam policiais militares designados para fazer a segurança de uma propriedade dos Miranda.
Audiências
Até o fim da tarde desta quinta-feira (26), o juiz federal João Paulo Abe tinha decidido manter a prisão preventiva do ex-governador e conceder liberdade sob fiança para o pai dele, José Edmar Brito Miranda, que tem 85 anos e está com problemas de saúde.
Por orientação do advogado, todos os Miranda permaneceram em silêncio durante os interrogatórios. Brito Miranda seguia preso no começo da noite de quinta porque o pagamento da fiança ainda não tinha sido realizado.
Já Marcelo Miranda foi levado para uma sala de Estado Maior no Comando Geral da Polícia Militar, em Palmas, onde vai aguardar a continuidade das investigações. A medida foi determinada para resguardar a segurança dele. Não foram divulgados detalhes de como é o ambiente onde ele vai ficar.
Já o irmão do ex-governador, Brito Júnior, deve passar por audiência de custódia na manhã desta sexta-feira (27), na Justiça Federal. Ele foi detido em uma fazenda no Pará nesta quinta-feira (26) e transferido para Palmas em um carro. Segundo a polícia, Brito foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) e depois encaminhado para a Casa de Prisão Provisória da capital, onde passou a noite.
O que diz a defesa
A defesa do ex-governador Marcelo Miranda, do pai e do irmão dele disse que as prisões foram sem fundamentos, que os fatos citados são antigos, foram denunciados no processo da operação Reis do Gado e que ainda não houve decisão judicial sobre eles.
No começo da noite, o advogado que representa os três informou que está elaborando um pedido de habeas corpus para o ex-governador e o irmão.
A esposa de Marcelo Miranda, a deputada federal Dulce Miranda (MDB), emitiu nota afirmando que não tem acesso ao processo investigativo. Ela disse que como esposa, tem plena convicção da inocência e da integridade do marido e que estende a mesma confiança ao sogro e ao cunhado.
A operação
Conforme a decisão judicial, Brito Miranda, pai do ex-governador, e Brito Miranda Júnior, irmão, funcionavam como pontos de sustentação para “um esquema orgânico para a prática de atos de corrupção, fraudes em licitações, desvios de recursos, recebimento de vantagens indevidas, falsificação de documentos e lavagem de capitais, cujo desiderato [finalidade] era a acumulação criminosa de riquezas para o núcleo familiar como um todo.”
Os investigadores apontaram ter encontrado um sofisticado e bem articulado esquema de compra de bens e uso de laranjas para esconder o dinheiro obtido com desvios públicos. É o que chamaram de “blindagem patrimonial”.
O ministro Mauro Campbell, por exemplo, chegou a determinar medidas cautelares de bloqueio de bens do ex-governador, no contexto da operação Reis do Gado. Porém, não foram encontradas propriedades suficientes. Em uma nova tentativa de bloqueio, em 2019, nas contas dele foram encontrados apenas R$ 256,29.
Nesta quinta Feira o juiz substituto João Paulo Abe, da 4ª Vara Federal de Palmas (TO), atendeu o pedido do Ministério Público Federal (MPF) e ampliou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do ex-governador de Tocantins, Marcelo Miranda (MDB), bem como de seu pai, José Edmar Brito Miranda, e de seu irmão, Brito Miranda Júnior.
Para o MPF, a investigação sobre as contas bancárias dos três integrantes da família Miranda, bem como de empresas suspeitas de ligação com o suposto esquema criminoso investigado em conjunto com a Polícia Federal (PF) e com a Receita Federal, é necessário para “ratificar os indícios de lavagem de capitais, cuja continuidade perduraria até os dias de hoje”, mesmo com as investigações já tendo se tornado públicas há tempos.
O nome da operação que resultou na prisão do ex-governador do Tocantins faz referência ao 12º trabalho de Hércules, seu último e mais complexo desafio, que consistia em capturar Cérbero.