Mãe se acorrenta e faz greve de fome após secretaria arquivar sindicância sobre jovem que morreu no dia que ia sair de presídio

Élida Pereira, mãe de Briner de César Bitencourt, se acorrentou ao prédio da Secretaria de Cidadania e Justiça, em Palmas.

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A cozinheira Élida Pereira, mãe do Briner de César Bitencourt, de 23 anos, se acorrentou ao prédio da Secretaria de Cidadania e Justiça (Seciju), em Palmas, na manhã desta terça-feira (25). O filho dela morreu no dia que seria solto, após ficar duas semanas passando mal dentro da Unidade Penal de Palmas. Ela também faz greve de fome.

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O motivo da manifestação é o recente arquivamento da sindicância sobre as circunstâncias da morte, que era feita pela Seciju, responsável pelo sistema prisional do estado. Essa investigação é administrativa é poderia levar a punições aos servidores envolvidos.

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“A última vez que eu vim aqui o secretário garantiu que iria fazer uma sindicância e todos os fatos iriam ser apurados. Depois arquivou dizendo que nada de ilícito foi encontrado na conduta dos agentes. Como? Se eles demoraram para tirar o meu filho da cela. Meu filho foi tirado de lá quase morto. Os dias que ficou preso o atendimento médico foi falho, tudo foi falho. Como não tem nada ilícito?”, questionou a mãe.

A morte aconteceu na madrugada do dia 10 de outubro do ano passado. Dias antes, o Briner tinha sido absolvido da acusação de tráfico de drogas, mas o alvará de soltura só chegou horas após ele passar mal e morrer na Unidade de Pronto Atendimento de Palmas (UPA).

O caso segue sendo investigado pela Polícia Civil e ainda pode ter desdobramentos criminais.

O protesto silencioso e solitário vai durar, segundo ela, até ser recebida pelo secretário para ter uma resposta.

“A reposta é a seguinte: falharam com meu filho, mataram meu filho. Querem arquivar, querem que a história morra. Eles trataram meu filho como lixo e agora estão varrendo o lixo para debaixo do tapete. Eu sou sozinha, estou solitária porque sou uma mãe que nunca mais tive paz. Desde o momento da prisão do meu filho e depois poderia ter um resultado feliz que seria a saída do meu filho, o que eu tive? Meu filho morto. O que eu quero é justiça. Eles não vão me calar”, disse a mãe.

Entenda

Briner foi preso em outubro de 2021 pela acusação de tráfico de drogas durante uma batida policial na casa onde alugava um quarto. Todo o tempo em que ficou preso, tentou provar sua inocência. Antes de ir para a prisão injustamente, ele trabalhava como entregador por aplicativo e fazia vídeos engraçados nas redes sociais sobre rua rotina como como motoboy.

Na prisão ele passou a sentir dores pelo corpo e segundo a Seciju, o quadro de saúde piorou na noite de domingo, dia 9 de outubro, para segunda-feira, dia 10. Ele foi levado para uma UPA da capital, mas não resistiu.

A sentença que determinou a inocência do jovem saiu no dia 7 de outubro, mas ele estava na unidade penal porque ainda não tinha um alvará de soltura. O documento só saiu no dia 10 de outubro, mas Briner já estava morto.

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O Tribunal de Justiça foi questionado sobre o atraso na liberação do alvará de soltura e por nota informou que o processo obedeceu ao trâmite normal, ‘sem qualquer evento capaz de macular ou atrasar o andamento do feito’.

Depois da repercussão do caso, o Tribunal de Justiça Tocantins assumiu que houve falha no processo de Briner. “Houve falha. […] Houve um erro terrível e isso é incompatível com a mais elementar ideia de justiça. A expectativa é que o estado tocantinense, como um todo, assuma isso perante a família”, disse o juiz auxiliar do Tribunal de Justiça do Tocantins, Océlio Nobre da Silva.

Briner adoeceu na prisão, mas a família do motoboy nunca recebeu informações sobre o estado de saúde dele. Segundo a Seciju, a pasta seguiu protocolo e isso ocorreu “devido ao sigilo médico/paciente, os atendimentos realizados durante à custódia não são informados”.

O laudo da morte do motoboy foi concluído pela Polícia Científica em novembro, apontando que o jovem teve diversos problemas pulmonares que levaram ao óbito. Segundo o documento, Briner teve tromboembolismo pulmonar, infarto pulmonar, Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS) e pneumonia bacteriana.

Quase um mês após a morte, a mãe do jovem recebeu um e-mail marcando uma visita ao filho na unidade. A mensagem foi encarada como uma piada de mau gosto e a secretaria abriu uma sindicância para apurar o fato que tratou como “grave falha”.