Bolsonaro pediu alterações em minuta golpista que previa prisão de Gilmar, Pacheco e Moraes

Investigação aponta que Bolsonaro recebeu essa minuta e solicitou a exclusão dos nomes de Gilmar e Pacheco, mantendo apenas o de Alexandre de Moraes.

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A investigação conduzida pela Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro no poder revelou a existência de uma minuta que previa a prisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

Segundo os dados da PF, Bolsonaro recebeu essa minuta e solicitou a exclusão dos nomes de Gilmar e Pacheco, mantendo apenas o de Alexandre de Moraes.

As informações constam na decisão de Alexandre de Moraes, que fundamentou uma operação realizada nesta quinta-feira contra militares e ex-ministros do governo Bolsonaro. O ex-presidente teve seu passaporte apreendido pela PF e está proibido de entrar em contato com os investigados.

Transcrição de áudio de Mauro Cid obtido pela PF — Foto: Reprodução
Transcrição de áudio de Mauro Cid obtido pela PF — Foto: Reprodução

A PF busca esclarecer a participação dos envolvidos nos eventos de 8 de janeiro, quando milhares de manifestantes invadiram e vandalizaram as sedes dos Três Poderes (Palácio do Planalto, Congresso e Supremo).

Conforme a PF, os investigados se uniram para divulgar informações falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro, com o objetivo de criar condições para uma intervenção militar que mantivesse Bolsonaro no poder.

A operação, denominada Tempus Veritatis pela PF, visa revelar a verdade por trás dos acontecimentos.

Bolsonaro foi considerado inelegível até 2030 pelo Tribunal Superior Eleitoral, que o condenou por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação ao questionar o sistema eleitoral. Ele também é alvo de outras investigações no STF.

A minuta de golpe foi entregue a Bolsonaro por Filipe Martins e Amauri Feres, segundo as investigações. Bolsonaro solicitou, em reunião com Martins e Feres, a exclusão dos nomes de Pacheco e Gilmar, mas manteve o de Moraes. Ele também desejou manter o trecho que previa a realização de novas eleições.

A PF também descobriu que a agenda e os voos de Alexandre de Moraes eram monitorados pelos golpistas para que o ministro pudesse ser acompanhado em tempo integral e, caso ocorresse o golpe militar planejado pelo grupo, ele pudesse ser preso.

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Generais envolvidos em reuniões com Bolsonaro manifestaram apoio ao golpe.

Uma investigação da Polícia Federal identificou que, em 9 de dezembro de 2022, o general Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército, encontrou-se com Bolsonaro no Palácio da Alvorada e expressou sua disponibilidade para aderir ao golpe de Estado. Essa informação foi obtida a partir de conversas encontradas no celular de Mauro Cid.

A condição estabelecida por Theóphilo para aderir ao golpe e colocar tropas especiais nas ruas foi que Bolsonaro assinasse uma minuta determinando o golpe.

Outro militar que incentivou o golpe foi o então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno. Em uma reunião realizada em 2022, ele enfatizou a necessidade de órgãos do governo agirem para garantir a vitória de Bolsonaro nas eleições.

Fala dita pelo general Heleno em reunião, segundo a PF — Foto: Reprodução
Fala do general Heleno em reunião, segundo a PF – Foto: Reprodução

Em uma conversa, obtida pela PF, o general Walter Souza Braga Netto, candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022, exigiu a demissão do então comandante do Exército, general Freire Gomes, a quem chamou de “cagão” por não aderir ao movimento golpista. A mensagem, enviada por Braga Netto a Ailton Barros, sugeria pressionar o comandante a se juntar ao golpe.

Diálogo em que general Braga Netto oferece a cabeça do comandante do Exército, que não aderiu ao golpe — Foto: Reprodução
Diálogo em que general Braga Netto oferece a cabeça do comandante do Exército, que não aderiu ao golpe – Foto: Reprodução

A operação da PF, que ocorreu em diversas regiões do país, visava cumprir mandados no Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná, Goiás e Distrito Federal. Além de prisões e buscas, foram aplicadas 48 medidas cautelares, como proibição de contato entre os investigados, retenção de passaportes e suspensão de cargos públicos.

Os alvos de buscas na operação estão:

  • General Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil;
  • General Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
  • General Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
  • General Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército;
  • Almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante-geral da Marinha (veja o que ele disse sobre a operação);
  • Anderson Torres, delegado da PF e ex-ministro da Justiça;
  • Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido de Bolsonaro;
  • Tercio Arnoud Thomaz, ex-assessor de Bolsonaro, conhecido como um dos pilares do chamado “gabinete do ódio”;
  • Ailton Barros, coronel reformado do Exército.

Foram alvos de mandados de prisão:

  • Filipe Martins, ex-assessor especial de Bolsonaro;
  • Marcelo Câmara, coronel do Exército ex-assessor especial de Bolsonaro;
  • Bernardo Romão Correa Neto, coronel do Exército;
  • Rafael Martins de Oliveira, major do Exército.

*Com informações do G1