Barracos são queimados e derrubados por pistoleiros durante ataque a acampamento no norte do Tocantins

Uma pessoa foi morta a tiros e outra ficou ferida durante ataque. Terra ocupada pelos trabalhadores rurais pertence à União, mas é alvo de disputa judicial com fazendeiro da região.

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Tudo que tinha no barraco da dona Eva Milhõmem foi queimado durante o ataque a um acampamento de trabalhadores rurais do assentamento Maria Bonita, na zona rural de Palmeirante, no norte do Tocantins. A área em que vivem dezenas de famílias pertence à união e é alvo de uma batalha judicial. Nesta sexta-feira (6) o local foi invadido por pistoleiros que atearam fogo em barracos, mataram um homem a tiros e tentaram matar outra vítima.

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“Só para fazer esse barraquinho nós pagamos R$ 300. Não é fácil não porque meu esposo não tem muita saúde. Foi um prejuízo”, lamentou a trabalhadora rural.

O ataque às casas dos trabalhadores rurais teria sido feito por um grupo de pelo menos dez homens. Os moradores afirmam que eles estavam armados e encapuzados. “Preocuparam bastante a gente. É de ficar assim meio tremido na base, mas a união nossa e a quantidade de família que nós somos não estamos para desistir. Na verdade a terra é da união”, disse o Ramildo Ferreira Souza.

As casas que não foram queimadas acabaram sendo derrubadas com tratores. A família não estava e quando voltar vai encontrar tudo destruído. Os poucos bens estão espalhados e até animais foram mortos.

O homem que foi assassinado é Getúlio Coutinho dos Santos, de 54 anos. Ele foi morto com dois tiros. De acordo com a Polícia Militar, ele estava na garupa de uma moto em direção a própria casa.

Getúlio não fazia parte do grupo de trabalhadores que disputam a posse da terra. Ele era dono de uma chácara onde vivia e a terra dele, inclusive, já estava titulada. Ele morreu no local e o amigo que guiava a moto ficou ferido, mas conseguiu fugir e foi socorrido.

Getúlio Coutinho – Foto: Divulgação

Depois deste ataque violento alguns trabalhadores resolveram deixar o local. “Vamos sair. Vim só buscar uma bolsa aqui e sair. Espero que a Justiça tome providência porque está feio para nós aqui. Não está fácil não”, disse o trabalhador rural Reis Machado.

As famílias ocupam a área há cerca de cinco anos. Em maio deste ano, o fazendeiro que alega ser dono de parte do terreno, obteve o direito de reintegração de posse de parte do terreno. A decisão foi dada pela 1º Vara Cível de Colinas do Tocantins e parte dos trabalhadores foram retirados do local.

A região é marcada por conflitos agrários porque a área pertence à União. O Ministério Público Federal, inclusive, espera que essa decisão seja revista.

“O fato de que a ação estava tramitando na Justiça estadual, mas deveria tramitar na Justiça Federal por se tratar de uma área da União, por haver interesse federal no feito. Na última sexta-feira [30] se manifestou pedindo que o processo fosse devolvido à Justiça Federal e que fossem anulados todos os atos até então praticados”, explicou o procurador Thales Cavalcante Coelho.

A Polícia Federal fez rondas no local do ataque e o caso também está sendo apurando pela Polícia Civil de Colinas do Tocantins, com apoio da delegacia de Nova Olinda, onde algumas testemunhas estão sendo ouvidas.

“Nós ouvimos hoje sete depoimentos e outras pessoas serão ouvidas na sequência pela delegacia responsável pela área”, explicou o delegado de Nova Olinda, Adriano Carvalho.

Entenda

A Fazenda Navarro é uma área que pertence à União e que tem a posse disputada entre os trabalhadores rurais e fazendeiros. Há uma semana, o Ministério Público Federal pediu que todos os atos já realizados no processo relacionado à fazenda sejam anulados, alegando que o caso tramitou na Justiça Federal sem o conhecimento da Procuradoria da República em Araguaína.

O MPF se pronunciou sobre o ataque desta sexta-feira e classificou o caso como uma ‘chacina’. O órgão afirma que alertou por várias vezes a Polícia Civil e o Ministério Público Estadual sobre a violência na região e o risco de um confronto.

Por G1