O sigilo da delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, foi derrubado nesta quarta-feira (19) por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). As informações reveladas por Cid foram fundamentais para a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que acusa Bolsonaro e outros 32 envolvidos de tentativa de golpe de Estado.
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Veja detalhes:
Venda de Joias Sauditas
Mauro Cid declarou que ele e seu pai, o general da reserva Mauro Lourena Cid, entregaram um total de US$ 78 mil (aproximadamente R$ 445 mil) a Bolsonaro entre 2022 e 2023. O dinheiro seria proveniente da venda de joias recebidas pelo ex-presidente como presentes oficiais, que deveriam pertencer ao Estado brasileiro.
Os repasses ocorreram da seguinte forma:
- Junho de 2022: US$ 18 mil foram entregues por Cid a Bolsonaro no Brasil.
- Setembro de 2022: US$ 30 mil foram repassados por Lourena Cid em Nova York.
- Final de 2022: US$ 10 mil foram entregues no Brasil.
- Fevereiro de 2023: US$ 20 mil foram entregues a Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro, em Miami.
Tentativa de Golpe de Estado
Segundo Cid, Bolsonaro liderou uma organização criminosa que, entre 2021 e 2023, buscava impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele relatou participação em reuniões onde militares discutiam a possibilidade de uma intervenção. Os grupos militares estavam divididos entre os mais “exaltados”, que defendiam a permanência de Bolsonaro no poder, e os mais cautelosos, que tentavam conter o ex-presidente.
A delação também revelou que Bolsonaro ordenou o monitoramento do ministro Alexandre de Moraes e do então vice-presidente Hamilton Mourão, buscando descobrir possíveis encontros secretos.
Divergências entre os Filhos de Bolsonaro
Os filhos de Bolsonaro, Flávio e Eduardo, tiveram posturas distintas quanto ao golpe. Flávio defendia que Bolsonaro aceitasse a derrota e se consolidasse como líder da oposição. Já Eduardo estava entre os mais radicais, incentivando a permanência do pai no poder.
Enquanto Flávio fazia parte de um grupo conservador que via a aceitação do resultado eleitoral como a melhor estratégia, Eduardo integrava um grupo mais extremo, que tentava justificar um golpe com supostas fraudes eleitorais ou mesmo pela força.
Dinheiro para o Golpe em Caixa de Vinho
Mauro Cid revelou que recebeu dinheiro em espécie do general Braga Netto, então candidato a vice-presidente de Bolsonaro, no Palácio da Alvorada. A verba foi entregue dentro de uma caixa de vinho e repassada a Rafael Martins de Oliveira, um dos articuladores da tentativa de golpe.
Cid não soube informar o valor exato da quantia, pois a embalagem estava lacrada. Ele também mencionou uma reunião de 28 de novembro de 2022, onde militares do Exército conhecidos como “kids pretos” discutiram estratégias de intervenção.
Pressão sobre Mauro Cid
Após iniciar sua colaboração com a Justiça, Cid relatou ter sofrido pressões para revelar o conteúdo de seus depoimentos. O general Braga Netto e o advogado Fábio Wajngarten tentaram obter informações sobre suas declarações à Polícia Federal. Essas tentativas estão sendo investigadas para apurar se configuram obstrução de justiça.
Termos da Delação Premiada
Cid firmou acordo de delação premiada com a Polícia Federal em troca de redução de pena e segurança para ele e sua família. Em contrapartida, comprometeu-se a fornecer informações detalhadas e colaborar com as investigações. O STF estabeleceu que os benefícios serão concedidos apenas se as informações forem confirmadas. Caso Cid descumpra o acordo, as provas permanecerão válidas para a Justiça.
As investigações continuam, e o STF prevê o julgamento de Bolsonaro em 2025 para evitar interferências no processo eleitoral.
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