Suspeito de chacina no DF libera reféns e foge pelo rio após troca de tiros

Rio com cerca de 10 km de comprimento margeia diversas propriedades, chácaras e fazendas da região. Mais de 200 policiais de Goiás e do Distrito Federal, procuram por Lázaro Barbosa.

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Os três reféns feitos por – dois homens e uma mulher -, foram liberados pelo suspeito de matar uma família no último dia 9, em Ceilândia (DF). Eles eram funcionários da fazenda Grota D’água, propriedade que beira o rio Lázaro (também chamado de Rio das Areias), a cerca de 5 km de Edilândia, povoado próximo a Cocalzinho de Goiás.

Os vizinhos da fazenda – que foi invadida – confirmaram que Lázaro Barbosa liberou os reféns durante a troca de tiros que ocorreu nesta tarde de terça para poder fugir pelo rio.

Já o rio, destaca-se, tem cerca de 3 metros de largura e aproximadamente 10 km de comprimento. Ele margeia diversas propriedades, chácaras e fazendas da região.

No rio Lázaro existem diversas grutas de pedras difíceis de serem alcançadas por quem desconhece o local. O cerco, que já dura sete dias, continua.

Sete dias de caçada

Quarta-feira (9) – A onda de crimes tem início quando o suspeito invade uma casa em Ceilândia. Lá, ele teria matado o empresário Cláudio Vidal, 48; dois filhos dele, Gustavo Marques, 21 anos; e Carlos Eduardo Vidal, 15 anos; e sequestrado a mãe deles, Cleonice Marques, 43 anos.

Família morta em Ceilândia – Foto: Divulgação

Após os crimes, Lázaro fugiu para a região entre Cocalzinho e Edilândia, no Entorno do DF.

Sexta-feira (11) – Polícia Militar do DF inicia buscas pelo suspeito.

Sábado (12), à tarde – polícia encontra o corpo de Cleonice Marques. Cadáver estava próximo de um córrego na região de Sol Nascente (DF). Mulher estava nua, de bruços e apresentava cortes na região das nádegas.

Sábado (12), à noite – Três pessoas são baleadas em uma casa na zona rural de Cocalzinho de Goiás. Suspeito teria forçado vítimas a fazer comida para ele enquanto as obrigava a fazer consumo de drogas. No local, Lázaro supostamente rouba duas armas de fogo e munições.

Domingo (13), à tarde – Chácara é invadida em Cocalzinho de Goiás. Proprietário encontra imóvel revirado e dá falta do carro, um Corsa vermelho.

Domingo (13), noite – veículo é abandonado na BR-070, após avistar bloqueio policial próximo à cidade de Edilândia. Suspeito foge à pé, supostamente para região de mata. Investigadores ainda não confirmaram se responsável por abandonar carro é mesmo Lázaro.

Região de rural de Ceilândia onde suspeito de triplo homicídio no DF roubou automóvel — Foto: Arquivo pessoal
Região de rural de Ceilândia onde suspeito de triplo homicídio no DF roubou automóvel — Foto: Arquivo pessoal

Polícias militar e rodoviária federal destacam 120 policiais para o cerco, que tem auxílio de 3 helicópteros

Segunda-feira (14), manhã – Mais policiais se juntam à operação de captura. Agora, são 210 agentes da PM-GO, PM-DF e Polícia Federal (PF) que atuam para detectar e prender Lázaro. Secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodnei Miranda acompanha os trabalhos in loco.

Segunda-feira (14), noite – Lázaro pede comida em uma chácara em Edilândia, mas diante da negativa do caseiro atira com uma pistola contra a propriedade. O caseiro, que também estava armado com uma espingarda, revida, fazendo com que o procurado fuja do local correndo a pé.

– Terça-feira (15), tarde – Moradores de uma fazenda em Cocalzinho de Goiás afirma ter avistado Lázaro passando pela propriedade. Desesperados, eles orientam os policiais sobre o caminho que ele seguiu.

– Terça-feira (15), tarde – Três pessoas – uma mulher e duas crianças – foram mantidas reféns de Lázaro Barbosa em uma propriedade rural que fica a 5 km de distância do povoado de Edilândia. Os reféns foram libertados após troca de tiros com a polícia e o suspeito fugiu por um Rio próximo da fazenda.

– Quinta-feira (17), os policiais que atuam nas buscas de Lázaro Barbosa, 32 anos, investigaram duas pistas sobre a localização do suspeito de ter matado quatro pessoas de uma mesma família no Distrito Federal em 9 de junho passado. Foragido desde o dia do crime, Lázaro foi visto por dois moradores de Girassol, distrito de Cocalzinho (GO). “Estamos checando para ver se, dessa vez, a gente tem sucesso de encontrar esse sujeito e tirá-lo daqui”, diz o secretário de segurança pública de Goiás, Rodney Miranda. “Estamos literalmente caçando esse sujeito”, afirmou. Uma das hipóteses investigadas era a de que Lázaro teria passado a noite em uma área de vale, bem em frente à base da força-tarefa, montada perto do Residencial Itamar Nóbrega 1, onde houve mais buscas. Miranda assegurou que a estratégia de buscas será mantida, mesmo com tantos dias de procura.

O procurado

A série de crimes atribuída a Lázaro Barbosa, 33, teve início em entre 8 e 9 de abril de 2020, quando ele teria invadido uma propriedade rural de Santo Antônio do Descoberto. Quatro idosos estavam no local. Um deles foi atingido com golpe de machado na cabeça, mas sobreviveu, embora apresente sequelas, segundo a Polícia Civil goiana. Os outros idosos também foram agredidos, com menos gravidade. Lá ele roubou bens e celulares que depois foram recuperados pelos investigadores. À época ele foi indiciado por crime de roubo mediante restrição da liberdade das vítimas, emprego de arma branca e por tentativa de latrocínio.

De estupros a tortura, crimes de Lázaro Barbosa acumulam excesso de crueldade

Era feriado de Páscoa em 2016. A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal concedeu o benefício do saidão a 1.450 presos, cerca de 10% da população carcerária. O detento Lázaro Barbosa de Sousa, condenado por estupro, havia se envolvido em um caso de desacato na Penitenciária II do DF cinco anos antes, em setembro de 2011. Porém, ganhou as ruas na Semana Santa, como prevê a lei em casos de presidiários com bom comportamento nos seis meses anteriores.

Lázaro, com 27 anos à época, não voltou. Criminoso cruel, que mata, tortura e estupra sem dó nem piedade, ele reincidiu. A ficha do acusado cresceu, com suspeitas de assalto, sequestro, violência sexual. Isso há dois anos. Mas, nas últimas semanas, teve início uma nova sequência de violência. Primeiro, Lázaro entrou em uma propriedade no Incra 9, núcleo rural de Ceilândia Norte, roubou e manteve uma família em cativeiro.

Dias depois, voltou às redondezas. Arrombou a porta de uma fazenda, entrou e matou uma família inteira em 10 minutos de barbárie. O pai e os filhos — de 21 e 15 anos — foram esfaqueados. O mais velho ainda levou um tiro. A mãe também teve um triste fim e foi levada de casa para a morte.

Cleonice Marques de Andrade, 43, foi encontrada nua, de bruços, à beira de um córrego, três dias depois de ser arrancada do próprio lar. A equipe do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Civil do DF prepara o laudo que vai atestar a suspeita de que ela tenha sofrido estupro. Depois da possível violência sexual, ela levou um tiro na cabeça, que decepou a orelha da vítima. Durante os trabalhos, peritos cortaram o cabelo dela para fazer exames e a vestiram com uma fralda, para preservar fluídos como esperma ou sangue.

Armadilhas

Estupro é um traço da violência cometida por Lázaro. O processo que levou à condenação do criminoso, em 2011, está sob segredo judicial no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), por envolver agressão sexual. Lázaro assaltou um pesque-pague em Ceilândia e escolheu uma moça como mais uma das vítimas.

Com tantos crimes, o bandido se passava por uma pessoa comum, a ponto de ter assumido o trabalho de vaqueiro na fazenda dos sogros do delegado-geral da Polícia Civil do DF, Robson Cândido. O imóvel fica em Girassol, região de Goiás onde, agora, Lázaro se esquiva da captura como um fantasma. A mãe e o padrasto dele trabalhavam como empregados da chácara até quinta-feira, quando os crimes do filho vieram à tona.

O próprio delegado, que atua há mais de 20 anos na profissão, nunca se deu conta de que estava diante de um assassino. “Era um peão de fazenda, que conhece como poucos as matas da região. Ninguém imaginava que ele fosse capaz desses crimes. A mãe dele ficou muito assustada”, conta Robson Cândido.

Amigos dizem desconhecer o perfil de Lázaro que se tornou público. Morador de Girassol — um dos distritos de Cocalzinho (GO) —, Jhonny Mares Ribeiro, 22, contou ao Correio que conhecia o acusado desde 2018. “Ele foi caseiro na fazenda do meu patrão. Sempre andava de ‘social’, bem-vestido. Era uma pessoa assim… Como se eu estivesse falando com você. E sempre falando de Deus”, detalhou. “Fiquei muito surpreso (com os crimes), porque ele nunca pareceu ser alguém violento. Era, inclusive, muito bem falado pelo meu patrão, porque cuidava bem da fazenda.”

Jhonny relatou que jogava bola com Lázaro e que o ex-vaqueiro gostava de fazer musculação em uma barra na praça de Girassol. Segundo ele, Lázaro tinha na caça outro hobby. Adorava montar armadilhas para tatus e pacas, assim como ficar de tocaia durante a noite. “Acho que isso o ajuda a se esconder (durante a fuga), porque é uma experiência que ele tem desde pequeno”, comentou. “Ele era uma pessoa normal de tudo, de boa. Fiquei até muito surpreso.”

Habitat

Também em Girassol, um jovem que não quis ser identificado disse conhecer Lázaro há sete anos. Ele descreveu o fugitivo como uma pessoa “normal, tranquila e trabalhadora”. Disse que o acusado aprendeu a andar em meio à natureza e que, depois de cometer um assassinato na Bahia, passou seis meses escondido em um matagal. Contou ainda que Lázaro morou em Girassol entre 2014 e 2016. “Ele criou birra com o pai, porque o pai largou a mãe enquanto ele (Lázaro) era novo. Daí, tomou raiva”, relatou. Ainda segundo o entrevistado, o criminoso costumava caminhar pelo mato desde os 12 anos. “Ele levava uma hora para percorrer entre Edilândia (GO) e Águas Lindas de Goiás por dentro da mata.”

Hoje, aos 32 anos, a pessoa mais procurada do país tem driblado os policiais, do Distrito Federal e de Goiás, que o perseguem. Lázaro se esconde, invade casas em chácaras para comer e parece se divertir com a audiência da própria caçada. Segundo integrantes das equipes, ele age como se não tivesse nada a perder e não dá sinais de que pretende se entregar.

A história virou um case policial. Nas chácaras, procura armas, sabendo que, em geral, chacareiros mantêm espingardas e pistolas como proteção. Busca, também, comida e dinheiro. Nas matas, esconde-se em buracos, cavernas e dorme em cima de árvores. Está no habitat dele, enquanto as forças de segurança o procuram como quem caça um animal selvagem. Para esconder o rastro de cães farejadores, ele caminha pelos rios. Além disso, usa roupas neutras.

A busca ainda ganhou um ar de filme de terror. Como mantém rituais por onde passa, Lázaro desperta arrepios em quem trabalha nas capturas. Em um dos momentos em que quase foi pego, uma neblina surgiu de repente e dificultou a visibilidade. “Deus está acima de tudo, mas esse cara parece ter um pacto com o diabo”, desabafou um policial.

O delegado Rafael Seixas, chefe da 24ª Delegacia de Polícia (Setor O) — unidade que apura os crimes no Incra 9 —, conta que a investigação apontou a relação de Lázaro com ações que envolvem sacrifícios e trabalhos espirituais. “Mas não podemos creditar os crimes a esse lado dos rituais”, afirmou. Outro policial contou que o fugitivo teria sido batizado por um pai de santo e estaria envolvido com práticas “satânicas”. Segundo ele, a família assassinada no Incra 9 teria sido uma “oferenda”. O mesmo ocorreria com os três reféns levados para um córrego na terça-feira e resgatados pela polícia.

No entanto, também há entre os investigadores a tese de que Lázaro matou porque houve reação das vítimas do Incra 9. A esperança de desvendar o real perfil do acusado está na captura do criminoso vivo. Considerado por especialistas como um sociopata — pessoas impulsivas, sem empatia e que não levam em conta o resultado dos próprios atos — ele tem a característica do criminoso que conta tudo. Poderá dar um depoimento para esclarecer essa mente criminosa. Se for capturado. E com vida.

Ficha criminal

2007
Duplo homicídio em Barra do Mendes (BA): Lázaro confessa os crimes e é preso, mas escapa 10 dias depois. As vítimas são os trabalhadores rurais José Carlos Benício de Oliveira e Manoel Desidério Silva

2009
Roubo seguido de estupro: o acusado invade uma chácara no Sol Nascente, prende os moradores no banheiro e sequestra uma jovem de 19 anos. Lázaro leva a vítima para o Córrego das Corujas e a estupra. Preso dias depois em Pirenópolis (GO), é deixado na Papuda

2016
Ainda no complexo penitenciário, mas em regime semiaberto, Lázaro não retorna do Saidão de Páscoa e é considerado foragido

2018
Com um mandado de prisão em aberto pelo duplo assassinato na Bahia, é detido na Unidade Prisional de Águas Lindas (GO), mas foge em junho. As varas Criminal de Barra do Mendes e de Execuções Penais do Distrito Federal emitem novos pedidos de apreensão do acusado: um por homicídio qualificado, outro por estupro e roubo, respectivamente

26 de abril de 2021: estupra uma mulher de 39 anos no Sol Nascente; a confirmação da
autoria saiu no último dia 9

17 de maio de 2021: invade uma chácara no Incra 9. Ele amarra as vítimas, ordena que fiquem nuas e cozinhem para ele, ameaçando-as com um revólver e uma faca

9 de junho de 2021: é suspeito de matar três pessoas da família Vidal Marques, que morava próximo ao endereço invadido dias antes. A quarta integrante é encontrada morta com um tiro três dias depois