Relatório da PF aponta que grupo de governador afastado do Tocantins usou haitiano refugiado como laranja

O refugiado, que trabalhava como pedreiro em SC, tinha renda de cerca de R$ 1.000, mas um extrato bancário em seu nome achado no notebook do sobrinho de Mauro Carlesse exibe saldo de R$ 420 mil.

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Relatório da Polícia Federal elaborado após operação que teve como alvo o governador afastado do Tocantins, Mauro Carlesse (PSL), aponta diversos indícios de que organização criminosa supostamente comandada por ele e seu sobrinho, Claudinei Quaresemin, teria usado um refugiado haitiano como laranja.

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O refugiado, que trabalhava como pedreiro em Balneário Camboriú, tinha renda de cerca de R$ 1.000, e extrato bancário em seu nome achado no notebook de Quaresmin exibe saldo de R$ 420 mil.

Em depoimento à PF, o haitiano Miciale Pierre afirmou que seu contratante em Santa Catarina, Rafael Augusto de Souza, pagava R$ 500 a mais por mês para colocar uma empresa em seu nome, sem dizer o motivo.

O extrato mostra depósitos de até R$ 30 mil feitos pela empresa. O documento também conta com transações de até R$ 60 mil feitas pela plataforma de pagamentos digitais Linkpay, que, segundo a Polícia Federal, também era usada por Quaresemin.

O relatório aponta ainda similaridade entre os números dos cartões de Miciale e Quaresemin, o que pode sugerir que sejam titular e adicional. Boletos bancários que haviam sido apagados do notebook do sobrinho de Carlesse indicam situações similares de possível uso de laranja: pessoas com pouca renda que constam como pagadoras de boletos de até R$ 75 mil.

Em 7 de dezembro, a Assembleia Legislativa abriu um processo de impeachment por crime de responsabilidade contra Mauro Carlesse.

Afastamento do cargo de governador

Mauro Carlesse foi afastado do governo por 180 dias em outubro, por decisão do ministro Mauro Campbell, do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Uma das suspeitas contra ele é de que havia desvios de parte do que o estado repassava a hospitais referente ao Plansaúde (plano de saúde dos servidores estaduais).

Segundo as investigações, uma porcentagem do dinheiro era devolvido ao governador e aliados, como propina. A Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou, em manifestação enviada ao ministro Campbell, que o grupo de Carlesse recebeu R$ 9,5 milhões entre 2018 e 2021 e desse total ao menos R$ 7,8 milhões não tem explicação para a origem.

Carlesse também é acusado de ter adquirido materiais de pesca por intermédio de auxiliares, supostamente utilizando dinheiro do Hospital de Urgência de Palmas.

O que diz a defesa

O advogado de Carlesse, Nabor Bulhões, diz que os procedimentos instaurados até agora são inquisitoriais e encontram-se em segredo de Justiça. Ele afirma que nem o governador nem sua defesa tiveram acesso ao relatório e que nada do que se produziu na investigação vem observando as garantias da defesa.

“Como a experiência tem mostrado, lamentavelmente, nessa fase inquisitorial, os investigadores não têm escrúpulos em transformar muitas vezes fatos comuns da vida em especulações sobre cometimento de crimes”, afirma Bulhões.

O advogado também diz que, em casos dessa natureza, investigadores vazam documentos para “transformar suas conjecturas e presunções em provas de crimes, expondo os investigados e invertendo toda a lógica do sistema de garantias do sistema penal: presunção de inocência -e não de culpabilidade!”.