“Quem não tem filho deficiente para explorar que trabalhe”, diz influencer que desviou doações para filha para comprar carro

Igor de Oliveira Viana disse em entrevista que acha engraçadas as piadas que faz com a filha e sobre gastar o dinheiro dela. Defesa dele diz que ele é inocente.

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Influenciador Igor de Oliveira Viana, de 24 anos, investigado por crimes contra a filha de 2 anos, com paralisia cerebral, afirmou em mensagens enviadas em um grupo que, ao invés de usar o dinheiro doado por seguidores para os cuidados da menina, ele gasta em benefício próprio, como na compra de um carro.

“Comprei um carro com o dinheiro doado para o carrinho (…). Quem não tem filho deficiente para explorar, tem que trabalhar”, debochou.

O carrinho mencionado é um equipamento de locomoção adaptado para pessoas com deficiência, que Igor pediu ajuda aos seguidores para comprar para a filha. Após arrecadar cerca de R$ 11 mil, Igor afirmou em um vídeo que tinha sido vítima de um golpe na internet e perdido o dinheiro. Em entrevista à TV Anhanguera, Igor admitiu ter mentido sobre o golpe e afirmou achar engraçadas as piadas que faz com a filha e sobre usar o dinheiro dela.

“O engajamento não vem com a verdade. A verdade não engaja e a verdade não vende”, disse.

“Quem não tem filho deficiente para explorar que trabalhe”, diz influencer que desviou doações para filha para comprar carro
Foto: Reprodução

Assim como o influenciador, a mãe da criança, Ana Vitória Alves dos Santos, de 22 anos, também é investigada pela Polícia Civil. Há denúncias de que ela usou o dinheiro da menina em cirurgia plástica. Ambos são suspeitos de maus-tratos, estelionato, desvio/apropriação de proventos de pessoa deficiente, incitação à discriminação de pessoa deficiente e constrangimento de criança, sendo o pai de forma direta e a mãe por omissão.

Em nota, a defesa do casal afirmou que eles são inocentes, mas devido ao sigilo do caso, não podem fornecer mais detalhes.

Em outras mensagens, Igor afirmou que usaria o dinheiro das doações para contratar prostitutas no norte do país, e em seguida disse que estava brincando.

“E eu vou usar toda a grana para comer prostitutas no nortão…Brincadeira…Calma”, disse.

Igor agradeceu uma doação de R$ 1,1 mil aos seguidores, dizendo que o valor seria destinado para a compra de uma geladeira nova para a filha e destacou que o valor foi arrecadado em menos de 24 horas. O influenciador argumentou que a filha não tem PIX e o dinheiro era enviado para a conta dele, portanto, ele não era obrigado a gastar apenas com a menina.

Influenciador acusado de maus-tratos contra filha com paralisia cerebral chama doadores de 'trouxas' e reclama da menina
Foto: Divulgação

“Minha filha não tem PIX, então se eles foram trouxas, a culpa não é minha. Eu não sou obrigado a usar o dinheiro que eles mandam especificamente com a minha filha. Eu também tenho necessidades a serem supridas. Também sou um ser humano”, falou Igor.

Igor, que soma mais de 18 mil seguidores, compartilha a rotina da filha, mas em alguns momentos debocha da criança. Em um dos vídeos investigados, ele chama a filha de inútil após pedir que ela vá ao mercado. Sobre os vídeos ironizando a filha, Igor alegou que a criança “é chata” e que já deu muito trabalho para ele, dizendo que sua vontade às vezes “é de largar na porta do orfanato”.

“Eu não imaginava que uma criança que tem 10% do cérebro funcionando fosse tão chata e pudesse me dar tanto problema. A vontade, às vezes, é de largar na porta do orfanato e deixar alguém se virar, alguém tomar conta”, finalizou.

Segundo a Polícia Civil, Igor e a mãe da criança se separaram amigavelmente há cerca de um mês, mas fingiam ter uma relação conturbada nas redes sociais para criar conteúdo. Eles tinham um acordo verbal de que Igor moraria com a filha. Os seguidores, sensibilizados com a situação, enviavam doações em dinheiro para ajudar nos cuidados com a criança.

“Eles estavam juntos até pouco tempo. Nesse último mês, eles se separaram e essa separação se deu de forma amigável, mas eles estariam simulando uma briga pública entre os dois para gerar mais engajamento”, explicou a delegada do caso.

Foto: Divulgação

A investigação contra Igor e a mãe da menina começou em 20 de junho, em Anápolis, após denúncias de que a criança estava sendo negligenciada e não possuía condições de higiene. Rapidamente, as denúncias começaram a aumentar, relatando outros crimes. Atualmente, já são mais de 30 denúncias. A delegada Aline Lopes afirma que os deboches do pai expõem a filha a uma situação constrangedora.

“Você não está fazendo uma brincadeira, você está expondo e causando constrangimento, não só a ela, mas a todas as crianças com deficiência, além da fala problemática no final. Tem outras postagens em que ele inferioriza a menina, causando constrangimento a ela pela condição de pessoa com deficiência”, explicou a delegada.

O Conselho Tutelar retirou a menina de casa e a levou para a casa da avó paterna. No boletim de ocorrência, consta que, durante a ação de retirada da menina, Igor se comportou de forma debochada, fazendo piadas e observações de mau gosto.

“Ele debochou muito, dizendo que graças a mim agora ele vai ficar mais famoso do que ele já é. Chegou a fazer caretas imitando a criança. Foi de um absurdo tão grande que me revoltou de uma forma que eu não sei nem explicar a indignação que eu senti”, lamentou a conselheira Grazielle Ramos.

Igor afirmou que debochou da conselheira tutelar em resposta a um suposto deboche dela com ele. O influenciador explicou que não pode ver a filha e que, agora, apenas a mãe tem acesso à criança.

A avó paterna da criança disse ao Conselho Tutelar que está sendo ameaçada pelas redes sociais e que está com medo.

“A avó me relatou que estão agredindo ela nas redes sociais, reclamando, falando mal do Conselho Tutelar, questionando o motivo de o Conselho entregar a menina para ela. Mas essas pessoas não sabem que nós fizemos todo um estudo antes de entregar a criança para a avó”, relatou a conselheira Grazielle Ramos.

A delegada explicou que a avó prestou depoimento na quarta-feira (26), e que vai reunir provas sobre as ameaças que vem sofrendo para entregar à Polícia Civil para que o caso seja investigado.