Prefeita de Palmas anda com escolta após receber ameaças por restringir comércio no combate à pandemia

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A prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) revelou ter virado um alvo de ameaças e manifestações na porta de sua casa e na prefeitura depois que assinou um decreto, no dia 3 de março, pelo qual restringiu o comércio não essencial e outras atividades a fim de conter a pandemia do novo coronavírus. “Hoje infelizmente minha vida corre risco. Ameaça de tudo que é lado, de tudo que é jeito. Eles olham para mim e acham que ‘é presa fácil, não vai ser muito corajosa'”, disse.

A prefeita disse ainda que está tendo que trabalhar com escolta. “Minha vida virou um inferno desde que me declarei do lado certo, do lado da ciência, da vida das pessoas. É uma construção, em parte, política. Infelizmente a política entrou na pandemia. Você vê que é um movimento muito bem construído. É feito por extremistas”, conta.

O relatório do governo do Tocantins, divulgado no dia 4, apontou que Palmas atingiu 100% de sua capacidade de leitos de UTI na rede pública. O número de mortos no Estado era de 269 no dia 4 e neste sábado (20) já chegou a 334. São necessárias semanas, segundo a prefeitura, para que os efeitos das restrições cheguem às estatísticas. Entre as vítima da doença esta a secretária de Saúde do Município, Valéria Paranoá

O decreto municipal, previsto inicialmente para durar 10 dias, foi renovado no último dia 16. Com o ato, a Prefeitura suspendeu todas as atividades não essenciais, incluindo restaurantes (com exceção de entregas a domicílio), aglomerações, cultos, missas e “eventos de toda e qualquer natureza”. No domingo, as regras ficam ainda mais rígidas, com proibição de delivery dos restaurantes. As pressões contra a prefeita começaram ainda no dia 3 e atingiram o auge no dia 11. Perfis criados em redes sociais convocaram carreatas e um protesto para a frente da casa de Cinthia, um condomínio em Palmas no qual vivem cerca de 50 famílias, segundo a prefeita.

Contrários as medidas, manifestantes se reuniram na entrada do edifício da prefeita e passaram horas gritando, xingando a gestora e disparando fogos de artifício. “A ideia deles era criar um pânico. Jogaram pau, pedra, na porta do meu prédio. Quase 50 famílias, aí sim, ficaram impedidas de ir e vir, ninguém podia sair do prédio. Jogaram foguetes no nosso prédio. Palavras de horror. Eles esquecem que temos filhos – eu tenho um filho cardiopata. Ficou a família toda trancada aqui dentro, observando o horror lá fora. Estavam todos descumprindo o decreto, que prevê a não aglomeração. Eles não acreditam que o vírus contamine, que seja letal”, desabafa.

protesto
Foto: Reprodução

A prefeita também passou a receber, segundo ela, “inúmeras ameaças de morte” no telefone celular e nas redes sociais, quase sempre por meio de perfis falsos. Ela pediu apoio da Guarda Metropolitana para conseguir se deslocar pela cidade. Além disso, contratou segurança particular. Apurou-se que um dos manifestantes “é investigado ou processado por sete homicídios”, segundo a prefeita.

Os manifestantes chegara a criaram uma página no Instagram para pedir a saída da prefeita do cargo. Carreatas e protestos são organizados com apoio de políticos, de acordo com a prefeita. “É tudo às claras, eles não escondem nada. ‘O deputado Fulano está mandando litros de gasolina. Sicrano está mandando bandeiras.’ Perdemos um tempo imenso tendo que investigar esses perfis falsos nas redes, separar, denunciar, pedir providência. Isso no meio de uma pandemia”, diz a prefeita.

Promotor ataca decreto e cita ivermectina

Em outra frente, a prefeita é alvo das iniciativas de um promotor de Justiça, Adriano César Pereira das Neves, que ajuizou uma ação civil pública com o objetivo de suspender o decreto do dia 3 de março. Na terça-feira (16), a prefeita manteve uma audiência com o procurador-geral de Justiça, Luciano Cesar Casaroti, para “tentar entender a posição do Ministério Público e passar uma posição do que sofremos na ponta”, segundo Cinthia.

Diversas organizações médicas e órgãos públicos no Brasil e no exterior já disseram que a ivermectina ainda não tem eficácia comprovada contra a Covid-19. A própria fabricante do medicamento, a Merck, disse que não há evidência de eficácia no uso da ivermectina em pacientes com Covid-19. Agências de checagem de informação também apontou que é falso que pesquisas comprovam a eficácia da ivermectina para tratar ou prevenir a Covid-19.

O promotor defendeu na ação que o decreto causou “efeitos nefastos” e “anulou o núcleo essencial dos direitos conquistados pelo povo”. Ele citou supostos estudos sobre a ivermectina, medicamento indicado para tratar infestações de parasitas como piolho e sarna. “É consabido que o tratamento preventivo e/ou precoce com fármacos de baixo custo que há décadas são utilizados no combate a outros tipos de viroses e doenças autoimunes se mostraram eficientes no combate ao coronavírus, fato esse irrefutável”, escreveu o promotor.

Adriano Neves afirmou ainda que “lideranças que não gozam de credibilidade junto à população vem se utilizando de forma recorrente de medidas coercitivas impostas sob o manto do combate à pandemia em total afronta aos direitos fundamentais de seus administrado”. O promotor pediu que a Prefeitura de Palmas seja condenada “a fazer um Plano de Compensação dirigido à população atingida pelos efeitos nefastos do decreto”. No último dia 12, o juiz da 1ª Vara da Fazenda e Registros Públicos de Palmas, William Trigilio Silva, indeferiu o pedido de liminar do promotor, mas mandou intimar a Prefeitura. Na decisão, o juiz escreveu que, “como já pontuado em outra.

Operamos no limite da exaustão’, diz a prefeita. Além do promotor, a Prefeitura de Palmas enfrenta várias ações judiciais movidas por donos de comércio, em especial restaurantes, contra vedações do decreto. E a Justiça, segundo a prefeita, já concedeu 17 decisões liminares a fim de autorizar funcionamento de empresas.

Segundo a prefeita, o vírus segue implacável em Palmas. “As equipes de saúde estão trabalhando no limite da exaustão. E ainda tem gente lutando para ter festa! Não é hora de celebrar nada. Operamos no limite. Os pacientes antes não demandavam tanto oxigênio quanto agora. Essa nova cepa veio muito mais agressiva, o comportamento mudou, depois de 10, 12 dias, o paciente tem uma piora significativa, elas têm embolia.”

*Com informações do Uol