PMs que atiraram em rapaz na Favela do Moinho estão afastados

Os policiais envolvidos estão sendo investigados pela Corregedoria da Polícia Militar, que instaurou inquérito policial-militar na última sexta-feira (30).

Os policiais militares que atiraram em Leandro de Souza Santos, de 18 anos, na Favela do Moinho, região central de São Paulo, na última terça-feira (27), foram afastados de suas funções e transferidos para o serviço administrativo. A informação foi divulgada pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) e confirmada pela Polícia Militar (PM).

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O jovem foi baleado durante uma ação da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), batalhão de elite da PM paulista, por volta das 10h da manhã. Socorrido e levado ao Hospital Santa Casa, teve a morte constatada ainda na entrada do pronto-socorro.

A Secretaria de Segurança Pública do Estado afirmou, por meio de nota, que “a fim de preservar os dois policiais militares envolvidos na ocorrência, bem como garantir a lisura do processo investigativo, os mesmos foram transferidos temporariamente para o serviço administrativo na área central de São Paulo”.

Testemunhas relatam agressões e possível execução

Na sexta-feira (30), testemunhas ouvidas no inquérito da Corregedoria relataram que os policiais permaneceram com Leandro dentro da casa onde ele foi baleado por mais de uma hora. De acordo com o advogado Ariel de Castro Alves, coordenador da Comissão da Infância e Juventude do Condepe, que acompanhou os depoimentos, “existem muitos indícios de que o rapaz tenha sido torturado e executado”.

Nessa primeira fase das investigações, foram ouvidos a dona da casa onde Leandro foi atingido, a mãe dele, além de um irmão e uma irmã da vítima. Os irmãos afirmaram que tentaram entrar no imóvel, mas foram impedidos e agredidos pelos policiais militares. Segundo Alves, ambos apresentavam marcas de escoriações.

“As testemunhas relataram que os PMs não permitiram a entrada dos familiares na casa e garantiram que nada aconteceria com Leandro. No entanto, quando uma maca chegou, os parentes se desesperaram. Em seguida, os policiais retiraram o jovem do local enrolado em uma manta térmica fechada”, contou o advogado.

As testemunhas também afirmaram que o corpo de Leandro apresentava diversos hematomas, escoriações no rosto, joelhos e pulsos, além de dentes quebrados.

Falhas na preservação da cena do crime

Alves destacou que a Secretaria de Segurança Pública tem uma resolução que estabelece a preservação do local do crime em casos de mortes envolvendo policiais, mas que essa norma não foi respeitada.

“Segundo os relatos à Corregedoria, há indícios de que Leandro tenha morrido ainda dentro da casa, mas seu corpo foi removido sob a alegação de um suposto socorro”, disse Alves.

Ainda de acordo com o advogado, após a retirada do corpo, o local não foi devidamente isolado e objetos possivelmente relacionados ao crime permaneceram no ambiente. “Cápsulas de munição e um martelo ensanguentado foram deixados expostos no imóvel”, relatou.

Vídeos entregues à Corregedoria e investigação em andamento

Os familiares da vítima entregaram à Corregedoria vídeos gravados enquanto os policiais ainda estavam dentro da casa com Leandro. Nas imagens, segundo Alves, é possível ouvir barulhos altos vindos do interior do imóvel, além do som de um helicóptero. Também é possível visualizar alguns dos policiais envolvidos na ação.

As testemunhas afirmaram que Leandro não estava armado e relataram que todos os PMs atuavam sem tarjetas de identificação nas fardas.

Diante dos relatos, o Condepe solicitou a intervenção do procurador-geral de Justiça do Estado, Gianpaolo Poggio Smanio, que designou a promotora Soraia Bicudo, da 1ª Vara do Júri, para acompanhar as investigações e o inquérito policial. Novas testemunhas devem ser ouvidas nos próximos dias.

“A Corregedoria está empenhada em esclarecer os fatos”, concluiu Alves.

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