Uma pesquisa desenvolvida por profissionais do Laboratório de Mutagênese, da Universidade Federal de Goiás (UFG) aponta que trabalhadores rurais goianos que mantém contato com agrotóxicos têm cinco vezes mais lesões no DNA do que pessoas que não exercem essa atividade.
>> Siga o canal do "Sou Mais Notícias" no WhatsApp e receba as notícias no celular.
A geneticista e professora da Instituição, Daniela de Melo e Silva afirma que essas lesões ainda não são mutações. Porém, ela destaca que elas podem se tornar mutações e, com isso, levar ao desenvolvimento de tumores malignos.
“Apesar de preocupante, esse resultado não me surpreende. Temos outros estudos que já apontavam esse resultados mundo afora, mas fiz questão de replicar essa pesquisa em Goiás exatamente pelo fato de sermos um estado agrícola e por estarmos em quarto lugar na utilização desses produtos no Brasil”, ressalta.
Foram dez anos de pesquisa e escolhidos 200 trabalhadores rurais que atuam em lavouras no Sudeste e Sudoeste do Estado. Eles preencheram um formulário e tiveram sangue e mucosa oral coletados para as análises. O mesmo processo foi feito com trabalhadores que não têm nenhum tipo de contato com agrotóxicos.
Segundo Daniela, os tumores mais comuns após contato com os produtos são na cabeça, pescoço, gástricos e hematológicos. Segundo ela, muitos trabalhadores não usam Equipamento de Proteção Individual (EPI) devido ao calor ou até mesmo à pressa de manusear o agrotóxico.
“Muitos até confessaram que já se intoxicaram com os produtos, mas que não procuraram nenhum tipo de atendimento de saúde após a situação. Isso mostra que os dados de pessoas intoxicadas estão muito abaixo da realidade. Além disso, deveria ter uma fiscalização mais severa para a utilização desses produtos e até mesmo rever esses agrotóxicos que estão sendo liberados e que são proibidos em boa parte do mundo”, pontua.
A mesma pesquisa também analisou as esposas e filhos maiores de 18 anos desses trabalhadores. O resultado foi positivo para as lesões no material genético, mesmo que indiretamente, nos familiares. “As roupas de todos na casa são misturadas na hora de lavar. Além disso, muitas famílias moram em fazendas com lavouras ao redor”, afirma.
Também foi levantada a análise nos DNA’s de girinos que vivem dentro e nas redondezas do Parque Nacional das Emas. Em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), os pesquisadores encontraram 24% de animais com lesões.
Já do lado de fora, que conta com grande presença de lavouras de soja, o resultado de animais com lesões genéticas dobrou (48%). Mesmo com os danos menores dentro do Parque, o resultado chama atenção, já que a pulverização do produto pode alcançar áreas do parque. A pesquisa também constatou a presença de nitrito da água e que isso indica a presença de agrotóxicos no líquido.
Nova pesquisa
A professora afirma que uma nova pesquisa será desenvolvida em grupos de trabalhadores que estão com câncer enaqueles que não manifestaram a doença, mesmo tendo contato com os produtos. O palco da pesquisa será o Hospital Araújo Jorge.”O objetivo é o que fez com que a doença ainda não se manifestasse. Se é alguma proteção interna ou se apenas não deu tempo da doença se manifestar. Estamos aguardado a aprovação da Comissão de Ética para dar início a pesquisa”, destaca.
Campeão de uso de agrotóxicos
No Brasil, estamos consumindo o equivalente a 7,3 litros de agrotóxicos por pessoa todo ano. No Paraná, o índice é ainda pior: chega a 8,7 litros de agrotóxicos por pessoa todo ano.
Os agrotóxicos são justamente o que o nome diz: produtos tóxicos nocivos para a saúde. Pesquisas desenvolvidas pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e Ministério da Saúde – Fundação Oswaldo Cruz apontam que agrotóxicos podem causar diversas doenças, como problemas neurológicos, motores e mentais, distúrbios de comportamento, problemas na produção de hormônios sexuais, infertilidade, puberdade precoce, má formação fetal, aborto, doença de Parkinson, endometriose, atrofia dos testículos e câncer de diversos tipos.
Na contra mão
Nunca foi tão rápido registrar um agrotóxico no Brasil: o ritmo de liberação atual é o maior já documentado pelo Ministério da Agricultura, que divulga números desde 2005. A quantidade de pesticidas registrados vem aumentando significativamente nos últimos 5 anos. Mas, em 2019, o salto é ainda mais significativo. Ao todo, desde de janeiro o governo já liberou 239 novos produtos, o número que supera o total de 2015, marco da recente disparada.
Ativistas do meio ambiente e da saúde manifestam preocupação, dizendo que mais veneno está sendo “empurrado” à revelia para a população.
*Com informações do Mais Goiás