O morador de rua Lúcio Almeida Silva foi pego de ao descobrir na última semana que ele é milionário. O homem que sofre com a dependência do álcool e mora na rua em Pau D’árco, no norte do Tocantins, teve o nome utilizado na abertura de firmas que movimentaram emendas parlamentares no estado.
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Conforme as investigações, pelo menos 12 empresas foram abertas no nome de Lúcio Almeida. As empresas recebem pagamentos pela realização de eventos para instituições sem fins lucrativos.
Uma delas, o Instituto Prosperar (IPROS), se tornou alvo da operação ONGs de Papel, deflagrada no começo do mês. Em uma das contas das empresas de Lúcio Almeida foram movimentados R$ 2 milhões. Ele conta que nunca recebeu um centavo.
“Não tenho essa empresa, nem formação, nem conheço. Não sei nem quem é que o doutor falou”, disse o morador de rua após prestar depoimento na Polícia Civil.
Segundo o delegado Guilherme Rocha, foi encontrada uma procuração que dá plenos poderes na administração da empresa para João Paulo Silveira, um dos presos na ONGs de Papel. “Existe uma procuração que ele [Lúcio Almeida] também não reconhece que assinou”, afirmou o delegado.
A polícia acredita que o documento pode ter sido forjado. “Trata-se de uma pessoa que alegou não saber ler direito. Escreve pouco, de baixa instrução e que não tinha qualquer conhecimento de que estavam usando o nome dele para uma empresa que movimentou milhões”.
Lúcio Almeida não é investigado no caso, porque a polícia entende que ele foi vítima no esquema. O desvio de verbas pode ter chegado a R$ 30 milhões através de eventos superfaturados das ONGs investigadas.
A Justiça determinou a quebra do sigilo bancário das empresas e a polícia analisa agora quem mais pode ter sido beneficiado.
A defesa de João Paulo Silveira informou que só vai se manifestar após ter acesso aos autos.
Três são indiciados
A Polícia Civil concluiu o inquérito da operação ONGs e três pessoas foram indiciadas no caso. Iuri Vieira Aguiar, é apontado como o chefe do esquema; o presidente do Instituto Prosperar (IPROS). Também fora indiciados Iury Rocha da Silva e João Paulo Silveira, que a polícia acredita ser como o verdadeiro dono de uma das empresas beneficiadas no esquema e seria operador do grupo.
Cada um deles vão responder por quatro acusações distintas de peculato, quatro de associação criminosa e quatro de lavagem de dinheiro. Cada acusação é referente a um convênio do IPROS que está sob suspeita.
As defesas de Iuri Vieira Aguiar, João Paulo Silveira e Iury Rocha da Silva disseram que só vão se manifestar depois que tiver acesso aos autos.
Novos inquéritos ainda podem ser abertos no caso, porque outras centenas de convênios entre as ONGs que foram alvo da operação e o governo também estão sob investigação.
Entre os três indiciados, apenas Iury Rocha da Silva responde em liberdade. Ele foi solto após colaborar com as investigações na primeira fase da operação. Ele disse à polícia que apenas cedeu o próprio nome para o grupo. Iuri Vieira Aguiar está detido em Araguaína e João Paulo Silveira em Palmas.
Entenda
Segundo a polícia, o IPROS recebia dinheiro do governo do estado para realizar ações relacionados a arte e a cultura. No momento em que as licitações para os eventos eram realizadas, os processos eram direcionados para que empresas de pessoas ligadas ao grupo vencessem as concorrências.
Em alguns casos, até a empresa de um dos diretores do IPROS teria sido selecionada.