Julho das pretas | Coletivo cobra retorno da Câmara de Palmas às demandas das mulheres negras

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Na semana em que celebra o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, comemorado no dia 25 de julho, o Coletivo de Mulheres Negras ‘Ajunta Preta’ manifesta repúdio ao descaso da Câmara Municipal de Palmas com as demandas das mulheres negras na capital apresentadas há um ano.

Para o coletivo a Câmara demonstra “total desrespeito às pautas das mulheres negras, na capital de um estado onde mais de 70% da população é negra, tivemos a infeliz prova de que a casa de leis municipal é mais uma estrutura de governo racista, machista, homofóbica e intolerante”.

Na nota, o Ajunta Preta explica que no ano passado,  “A realidade da mulher negra na cidade de Palmas” foi tema de audiência pública na Câmara Palmas. No espaço, solicitado durante a edição passada do Julho das Pretas, foi apresentada aos vereadores e a comunidade presente uma carta de reivindicações requerendo a inserção de um capítulo na Lei Orgânica de Palmas concernente às demandas da mulher negra, com inclusão de orçamento e implementação de políticas públicas que garantissem condições básicas de dignidade, liberdade, segurança, educação, produção de renda e saúde.

Durante a audiência pública, foram apresentados dados, pesquisas, em números, cor, gênero, e grau, na tentativa de validar condições explicitas e chegar aos ouvidos das autoridades. Segundo o coletivo, na ocasião foram expostas dores, angustias, sequelas de um racismo histórico que até hoje condicionam as mulheres negras à subalternidade, invisibilidade social e institucional, violência doméstica, policial, miséria, genocídio.

Ainda conforme a nota, na época, poucos vereadores estavam presentes, os que dirigiram a palavra se utilizaram do habitual discurso politiqueiro, demagogo, conservador e oportunista. Os demais sequer se empenharam em erguer os olhos do aparelho celular e nos olhar a face, quem dirá nos ouvir. A carta de reivindicações foi entregue, assinada, protocolada, carimbada. O “sucesso”, da audiência pública com as mulheres negras em Palmas foi noticiada pelas assessorias nos canais de notícias dos vereadores e nos veículos de imprensa.

Por fim, o Ajunta Preta afirma que apesar do descaso e da pouca receptividade diante das demandas das mulheres negras, considerando a legitimidade da audiência pública e a legalidade da carta reivindicatória, o movimento volta à casa de leis, mais de uma vez, durante o decorrer deste ano, cobrando retorno às solicitações. Não tivemos direito sequer a uma resposta dos vereadores.

Das 12 medidas sugeridas na carta de reivindicações para atendimento às demandas das mulheres negras por meio de previsão em Lei municipal, nenhuma foi acolhida pela casa de leis. Após um ano, continuamos sem resposta.

Julho das Pretas
Durante a semana, uma série de atividades que discutem e reivindicam pautas do feminismo negro no Tocantins serão realizadas em Palmas. A segunda edição do ‘Julho das Pretas’ acontece em alusão ao Dia Internacional da Mulher Afro-Latinoamericana, comemorado no dia 25 de julho.

Em sua programação, na quinta-feira (25) às 19h acontecerá o cine debate no cine Cultura, no Espaço Cultural. já na sexta-feira (27), terá o Ajunta Fest no sindicato dos dentistas. O evento será termina com Ajunta na rua, no domingo (28) às 16h, no ginásio Airton Senna.

O Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, foi criado em 1992 durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, na República Dominicana. Reconhecido pela ONU no mesmo ano, a data tornou-se marco internacional da luta e da resistência da mulher negra e parte do calendário de lutas do movimento negro nacional.

A mesma data é dedicada a nossa Guerreira Tereza de Benguela. Portanto, é dia de refletirmos e pautarmos a luta contra todo tipo de discriminação que atinge as mulheres negras.

Programação

25 de Julho
Cine Debate
Local: Cine Cultura
Horário: 19H

27 de Julho
Ajunta Fest
Local: Sindicato dos Cirurgiões Dentistas (602 sul, AV LO 15, Conjunto 02, Lote 02)
Horário: 21H

28 de Julho
Oficina de Maracatu com o ‘Baque Mulher’
Local: Ginásio Airton Senna/ Taquaralto
Horário: 16H

*Toda a programação do Julho das Pretas é aberta ao público e com entrada livre.

CARTA DE REPÚDIO DO COLETIVO FEMINISTA DE MULHERES NEGRAS ‘AJUNTA PRETA’
À CÂMARA MUNICIPAL DE PALMAS

“A realidade da mulher negra na cidade de Palmas”, a quem interessa?

Aos senhores gestores da cidade, do estado, do país? À igreja? À esquerda? À direita? Ao feminismo misto? unilateral?, à imprensa, às empresas?

Onde estão os interessados na vida da mulher negra? Por detrás, ou em cima do muro? Não os vejo, não os ouço.

Sabemos quem está na linha de frente desse muro, levando rasteira, porrada, pedrada, facada, tiro: pretas, mães, filhas, líderes comunitárias, quilombolas, rurais, urbanas, periféricas, yalorixás, benzedeiras, rezadeiras, Marisa de Carvalho, Luana Barbosa, Claudia, Mariele, Daleti.

Nós, mulheres negras, em resistência, somos as únicas em defesa da nossa própria existência.

Há um ano, nesta mesma época, “A realidade da mulher negra na cidade de Palmas” era tema de audiência pública na Câmara Municipal. No espaço, solicitado durante a edição passada do Julho das Pretas, foi apresentada aos parlamentares e a comunidade presente uma carta de reivindicações requerendo a inserção de um capítulo na Lei Orgânica de Palmas concernente às demandas da mulher negra, com inclusão de orçamento e implementação de políticas públicas que garantissem condições básicas de dignidade, liberdade, segurança, educação, produção de renda e saúde.

Durante a audiência pública, apresentamos dados, pesquisas, em números, cor, gênero, e grau, na tentativa de validar condições explicitas e chegar aos ouvidos das autoridades. Falamos, expusemos dores, angustias, sequelas de um racismo histórico que até hoje nos condiciona à subalternidade, invisibilidade social e institucional, violência doméstica, policial, miséria, genocídio.

Na ocasião, dos poucos vereadores presentes, os que nos dirigiram a palavra se utilizaram do habitual discurso politiqueiro, demagogo, conservador e oportunista. Os demais sequer se empenharam em erguer os olhos do aparelho celular e nos olhar a face, quem dirá nos ouvir. A carta de reivindicações foi entregue, assinada, protocolada, carimbada. O “sucesso”, da audiência pública com as mulheres negras em Palmas foi noticiada pelas assessorias nos canais de notícias dos vereadores e nos veículos de imprensa.

Apesar do descaso e da pouca receptividade diante das nossas demandas, considerando a legitimidade da audiência pública e a legalidade da carta reivindicatória, voltamos à casa de leis, mais de uma vez, durante o decorrer deste ano, cobrando retorno às solicitações. Não tivemos direito sequer a uma resposta dos vereadores.
Das 12 medidas sugeridas na carta de reivindicações para atendimento às demandas das mulheres negras por meio de previsão em Lei municipal, nenhuma foi acolhida pela casa de leis. Após um ano, continuamos sem resposta.

Através da demonstração de total desrespeito às pautas das mulheres negras, na capital de um estado onde mais de 70% da população é negra, tivemos a infeliz prova de que a casa de leis municipal é mais uma estrutura de governo racista, machista, homofóbica e intolerante.

Diante do exposto, o Coletivo Feminista de Mulheres Negras do Tocantins, Ajunta Preta, repudia a Câmara Municipal de Palmas e os vereadores e vereadoras que a compõem, e reitera que continuará cobrando resposta às reivindicações apresentadas, hoje, amanhã, a cada ano, e por quanto tempo for preciso. Nós, mulheres negras, exigimos sermos reconhecidas como pessoas de direitos. Nos respeitem, respeitem a nossa cor, a nossa estória, e a nossa voz.

Continuaremos em luta contra o racismo e pelo bem viver, pautando as demandas do nosso povo, até que sejamos atendidas em posição de igualdade. Se os senhores vereadores de Palmas não nos escutam, o seu eleitorado certamente escutará.

O grito de dor antes colhido pela chibata hoje ecoa por direitos! Nossa voz é resistência e nossos passos vem de longe!

Palmas, 23 de julho de 2018.

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