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Agência Brasil – De cantora de bolero no interior de Minas Gerais a diva do samba no Rio de Janeiro, Clara Nunes se imortalizou como uma das maiores cantoras brasileiras. De vestido branco, com sua cabeleireira vasta e tiaras de conchas e flores na cabeça, ela própria narra sua história no documentário Clara Estrela, dos realizadores Susanna Lira e Rodrigo Alzugui. Feito com imagens de arquivo, o longa-metragem estreia hoje (9) no Festival do Rio, às 18h, no Cinepolis Lagoon, zona sul cidade. A mostra de cinema exibirá 250 filmes até o próximo domingo (15).
O documentário é resultado de um minucioso trabalho de pesquisa e traz cenas inéditas, como a apresentação da cantora na Suécia, na década de 1970. Em outras passagens, Clara Nunes revela suas raízes, desde sua saída de Paraopeba – cidade próxima a Belo Horizonte – até se tornar intérprete de compositores como Cartola e de Candeia. Ela também narra a influência das religiões afro em sua obra. Candeia, aliás, é autor de O mar serenou, uma das músicas mais executadas de Clara até hoje, passados mais de 30 anos de sua morte. Clara faleceu prematuramente, por uma complicação após uma cirurgia de varizes.
Para a estreia hoje, a produção do filme pede que espectadores compareçam vestidos de branco para um protesto contra a intolerância religiosa, um tema relevante para Clara Nunes, que era umbandista. O documentário também será exibido amanhã (10), às 18h, no Espaço BNDES, no centro, e na quarta-feira (11), às 14h, no Ponto Cine, no bairro de Guadalupe, na zona norte. A cantora era idolatrada na região, popularmente conhecida como subúrbio.
A direção optou por um documentário em primeira pessoa, sem entrevistas com artistas contemporâneos ou biógrafos. A diretora Susanna Lira explicou que, diante do vasto acervo audiovisual, seria importante deixar a própria se apresentar, sobretudo às novas gerações.
“Achamos que, primeiro, íamos dar voz a uma pessoa que morreu há três década, da forma mais próxima a que ela usaria para contar a própria história”, disse. “Se alguns fatos [sobre sua vida] não estão no filme é porque ela não mencionou, então [não queria falar sobre isso], a gente não colocou. O resultado é bem poético”, define.
Quando não é a própria Clara quem comenta sua vida em inúmeras entrevistas dadas a emissoras de TV e rádio ao longo dos anos, a atriz Dira Paes é quem interpreta a cantora em alguns trechos. A escolha de Dira foi feita para dar ainda mais peso à brasilidade da cantora, explicou Susanna Lira. “Clara representava essa mulher que vinha do interior para a cidade grande, o que é o caso da própria Dira, que tem uma trajetória semelhante, por ter vindo do Pará”, justificou.
Apesar do vasto material disponível, Clara Nunes, que rompeu paradigmas na indústria fonográfica e chegou a vender mais de 100 mil cópias, não tinha sido retratada em um documentário até hoje. Para os realizadores, essa foi também uma oportunidade de misturar passado e presente.
Susanna conta que o que mais a surpreendeu fazendo o filme foi perceber o quanto Clara Nunes é atual. “Já naquela época ela falava sobre empoderamento da mulher, a importância da mulher trabalhar, ser independente, sobre intolerância religiosa, sobre o respeito à fé do outro”, destacou.
Première Brasil
Clara Estrela integra a mostra Retratos, que reúne biografias dentro da Première Brasil. Nela, também está em cartaz o filme Callado, da documentarista Emília Silveira e Henfil, de Angela Zoé. O primeiro marca o centenário do escritor e jornalista Antônio Callado, incluindo a passagem dele pela britânica BBC, além de bastidores de suas reportagens. As últimas exibições de Callado no festival são hoje, às 18h, no BNDES, e amanhã, às 14h, no Ponto Cine.
“Esse é um filme sobre uma paixão”, contou a documentarista Emilia Silveira. “Ele era um grande escritor e jornalista. Seu livro mais famoso, o Quarup, marcou minha vida, minha juventude”, completou Emilia, que também é autora do filme Galeria F. Ela juntou o centenário de Callado com os 50 anos do romance Quarup para abordar a vida e a obra do artista.
Já o filme sobre Henfil recupera o trabalho do cartunista e ativista dos direitos humanos com depoimentos de seus colegas do jornal Pasquim. A obra mostra como o artista usou seus desenhos contra a ditadura militar e também para falar da hemofilia, doença da qual sofria. Ele precisava fazer constantes transfusões de sangue, por meio das quais acabou contraindo o vírus HIV. O longa estreou semana passada e sua última exibição será sexta-feira (13), às 14h, no Ponto Cine.
Foto: Divulgação