Família Miranda teria participação em triplo homicídio e tortura no Pará, aponta delator

Ex-governador do Tocantins, Marcelo Miranda (MDB), o pai dele, José Edimar Brito Miranda e o irmão Brito Júnior foram presos nesta quinta-feira (26), pela Polícia Federal.

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Possível participação da família Miranda em um triplo homicídio ocorrido no Estado do Pará foi levantada em delação premiada de um dos homens apontados como ‘laranja’ do grupo. O ex-governador do Tocantins, Marcelo Miranda (MDB), seu pai José Edimar Brito Miranda e irmão Brito Júnior foram presos na Operação 12º trabalho da Polícia Federal nesta quinta-feira (26).

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As revelações constam na decisão do juiz federal João Paulo Massami Lameu Abe, da 4ª Vara Federal de Palmas, que autorizou a operação da Polícia Federal. Foram expedidos 11 mandados de busca e apreensão, além das três prisões preventivas.

Marcelo Miranda foi preso em Brasília, no apartamento funcional da mulher dele, a deputada federal Dulce Miranda (MDB). Já o pai dele. Brito Miranda, foi detido em Palmas e irmão, Brito Júnior, numa fazenda em Santana do Araguaia (PA).  

Segundo o delator, o agropecuarista Alexandre Fleury Jardim, os assassinatos ocorreram entre 23 e 24 de junho de 2013 nas imediações da Fazenda Ouro Verde, em São Félix do Xingu (PA), que estava no nome de Fleury, mas pertence, na verdade, ao ex-governador, o pai dele e ao irmão.

Naquela ocasião, foram mortos Warlyson Gomes de Sousa, Nerivan Nava Fontineli e Igor Lázaro Alves de Sousa. A execução teria sido feita por policiais.  Fleury informou ainda que outros dois homens, Francisco Neto Pereira da Silva e Luciano Ferreira Lima, foram mantidos em cárcere privado e torturados com o fim de obter informações, tudo por ordem da família Miranda.

De acordo com o Ministério Público Federal, o possível envolvimento deles no triplo homicídio apenas se tornou evidente após a delação de Alexandre Fleury. O delator disse ainda que chegou a se desentender com os donos de fato da propriedade [Família Miranda] e eles temiam perder a terra.

Intimidação

O pecuarista disse também ter sido procurado por pessoas da região de São Félix do Xingu, ligadas a Brito Júnior e Brito Miranda, com vasto histórico de crimes violentos, dentre eles, a ameaça de morte a autoridades públicas federais e a um Procurador da República.

Ele afirma que sua propriedade rural, situada em Goiás, e o escritório de sua advogada foram arrombados em fevereiro de 2016. Foram furtados apenas documentos e armas, embora tivessem outros objetos de alto valor.

Para o juiz federal João Paulo Abe, tal episódio confirma a alegação de que os três membros da família são afeitos ao exercício da força para a consagração de seus interesses, ainda que, para tanto, seja necessária a prática de crimes de sangue, como aparenta ter sido o caso.

Outro lado

A defesa do ex-governador informou que “a princípio não há fatos que justifiquem o pedido de prisão”, mas vai se posicionar somente após ter acesso à decisão.

Em nota, a deputada Dulce Miranda disse que não teve acesso ao processo investigativo contra o marido, mas afirmou que “como esposa, eu  tenho plena convicção da inocência e da integridade do meu marido Marcelo Miranda. Estendo esta mesma confiança ao meu sogro Brito Miranda e ao meu cunhado Júnior”.

Operação

A operação, chamada de a Operação “12º Trabalho”, deflagrada nesta quinta-feira visa desarticular uma organização criminosa suspeita de prática constante de atos de corrupção, peculato, fraudes em licitações, desvios de recursos públicos, recebimento de vantagens indevidas, falsificação de documentos e lavagem de capitais.

Após a deflagração de diversas operações da Polícia Federal, dentre elas “Reis do Gado” (STJ, 2016), “Marcapasso” (4ª Vara Federal/TO, 2017), “Pontes de Papel” (STJ, 2017), “Convergência” (STJ, 2017) e “Lava-Jato” (STF, com delação firmada em 2017), a Polícia Federal constatoue que um núcleo familiar, composto por três pessoas influentes no meio político do Tocantins, sempre esteve no centro das investigações, com poderes suficientes para aparelhar o estado, mediante a ocupação de cargos comissionados estratégicos para a atuação da organização criminosa.

Na quarta-feira (25), durante a operação Carotenóides, a polícia prendeu um casal suspeito de ser laranja do ex-governador para o registro de veículos e imóveis.

A PF informou também que além da obtenção de novas provas, com a ação desta quinta-feira busca interromper a continuidade do crime de lavagem de dinheiro, uma vez que os investigados permanecem praticando atos de lavagem por meio de sofisticado esquema, utilizando-se de “laranjas” para dissimular a origem ilícita de bens móveis e imóveis, frutos de propinas em troca de favores a empresários dos diversos ramos de atividade que mantinham contratos com o poder público.

Mesmo depois das investigações tornarem-se públicas, o grupo prosseguiu realizando operações simuladas envolvendo o comércio de gado de corte e empresas de fachada, construção e venda de imóveis, tudo para ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, movimentação ou propriedade de bens, direitos e valores provenientes, direta ou indiretamente, das infrações penais.

Com o avanço das investigações, foi possível identificar que os ilícitos praticados pela organização criminosa estão agrupados ao redor de sete grandes eixos econômicos, que envolvem administração de fazendas e de atividades agropecuárias, compra de aeronaves, gestão de empresas de engenharia e construção civil, entre outros.

As provas reunidas na ação penal decorrente da Operação Reis do Gado apontam que os suspeitos atuaram e ainda agem de maneira orgânica e sistematizada, com divisão de tarefas, cujos atos são detidamente planejados para assegurar o produto dos crimes. Os investigados também agem no curso do processo, por meio da manipulação de provas, seja pela falsificação de documentos ou comprando depoimentos, com o claro objetivo de tumultuar e dificultar as investigações em andamento.

Estima-se que a organização criminosa causou prejuízos da ordem de mais de 300 milhões de reais ao erário.

O nome da operação faz referência ao 12º Trabalho de Hércules, seu último e mais complexo desafio, que consistia em capturar Cérbero.