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Na manhã desta quarta-feira (23), forças de segurança que atuam nas buscas pelo maníaco Lázaro Barbosa de Sousa, 32 anos, voltaram à chácara que quase foi invadida na noite de terça-feira (22/6). O caseiro, 54 anos, pediu para não ser identificado e contou que trocou tiros com um possível invasor. Ele afirmou não ter medo de uma nova invasão.
A polícia ainda não sabe se o invasor era Lázaro Barbosa. O foragido segue em fuga há 15 dias e invadiu outras residências na região de Girassol, distrito de Cocalzinho de Goiás. “Não penso em sair daqui, não tenho medo”, afirmou o caseiro.
A troca de tiros ocorreu por volta das 20h40 de terça-feira (22/6). “Estava escuro e eu ouvi alguém tentando abrir a porta, batendo o pé na porta. Dei um tiro e acendi a luz. Quando fiz isso, a pessoa fugiu”, completa o caseiro. Ele não chegou a ter contato visual com quem tentava invadir a propriedade.
“Estávamos a cerca de 50m de distância um do outro, não sei se ele queria me atingir, mas ele deu tiro”, disse o homem. Apesar do susto, o caseiro reforça que gosta da região, lugar onde mora desde que nasceu.
Buscas entram no 15º dia
As buscas por Lázaro Barbosa de Sousa encerraram o 14º dia com novas pistas que podem ter relação com o foragido. Na manhã dessa terça-feira (22/6), as equipes da força-tarefa encontraram um carro abandonado, incendiado próximo à Gruta dos Ecos — na saída do distrito de Girassol, sentido Cocalzinho (GO). A suspeita é de que seja um Chevrolet Classic branco. No fim da tarde, peritos da Polícia Civil de Goiás (PCGO) recolheram um lençol sujo de terra e um serrote de, aproximadamente, um metro de comprimento. Os dois itens estavam em uma mata na expansão de Águas Lindas, a cerca de 4km do município goiano. À noite, um tiroteio entre um caseiro e o invasor de uma chácara levou as equipes novamente a Girassol.
Apesar das suspeitas, a polícia não confirmou se o carro, os demais objetos e o tiroteio tinham ligação com Lázaro. Tanto o veículo quanto o serrote e o lençol passarão por perícia, segundo a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO). Só após a publicação do laudo, será possível saber se os objetos foram usados pelo procurado. O fugitivo tem 32 anos e é acusado de assassinar quatro pessoas da família Marques Vidal, em 9 de junho.
Durante a fuga, que ultrapassa duas semanas, Lázaro deixou um rastro de crimes por onde passou. Em 12 de junho, ele fez seis pessoas reféns por quase sete horas e atirou em três delas. Até essa terça-feira (22/6), uma das vítimas continuava internada no Hospital de Urgências de Anápolis. No entanto, boletim da unidade de saúde informou que o paciente estava consciente, orientado e estável. Os outros dois homens baleados receberam alta, mas o hospital não deu detalhes sobre o tratamento médico deles.
Em 15 de junho, Lázaro feriu mais uma pessoa. O fugitivo estava com três reféns e, durante troca de tiros com a polícia, atingiu de raspão o rosto de um PM. Contudo, o militar recebeu alta hospitalar no mesmo dia.
Tiroteio
Sons de tiros na noite dessa terça-feira (22) mobilizaram policiais que estavam na base da megaoperação, na Escola Municipal Alto da Boa Vista. O tiroteio teria ocorrido entre o caseiro de uma chácara em Girassol e um suposto invasor. A vítima não se feriu e disse que atirou para se defender. Até o fechamento desta edição, não havia detalhes sobre a identidade do suspeito nem se ele estaria ferido.
A circulação de informações sem relevância para as investigações tem atrapalhado o trabalho da polícia. Nessa terça-feira (22/6), em entrevista coletiva, a delegada Paula Meotti afirmou que, desde o início da caçada por Lázaro, a PCGO recebeu mais de 3,5 mil ligações. No entanto, 90% não tinham pistas concretas, mas relação com opiniões pessoais. Em média, chegam 250 denúncias por dia. “A maioria delas não têm utilidade. São mais opiniões, pessoas falando de como deveria ser o trabalho da polícia e (dando) palpites”, disse a chefe da assessoria de imprensa da instituição.
Congresso Nacional
A repercussão dos crimes de Lázaro chegou à Câmara dos Deputados. Parlamentares da Casa vão analisar um projeto de lei que obriga presos a fazer exame criminológico antes da concessão de benefícios como saída temporária ou progressão de regime. A proposta, apresentada na última quarta-feira, prevê que condenados sem aptidão para voltar ao convívio social não tenham direito à prerrogativa. O texto da matéria menciona a fuga do acusado durante um Saidão de Páscoa, em 28 de março de 2016, e a recaptura quase dois anos depois, em 7 de março de 2018.
Levado para o presídio de Águas Lindas, Lázaro conseguiu fugir novamente, em 23 de julho daquele ano. “Torna-se fundamental a realização do exame criminológico, a fim de avaliar a personalidade do apenado, se houve arrependimento em relação ao crime que cometeu e eventual possibilidade de reincidir na prática de delitos”, defendeu o autor do projeto, deputado Alex Manente (Cidadania-SP). “A legislação penal, corretamente, foi alterada para proibir a saída temporária de apenados por crimes hediondos com resultado em morte, mas não vedou a permissão de saída para os detentos que representam risco de reiteração na prática de outros crimes”, completou.
“Motivados e aguerridos”
Para dar continuidade às buscas por Lázaro Barbosa de Sousa, policiais que atuam na megaoperação recorrem a aparatos tecnológicos e técnicas tradicionais de investigação. Eles contam com uma central de monitoramento, equipes em campo e, no último fim de semana, Cristal, uma cadela da raça border collie, chegou à base da operação para atuar na caçada. Além do animal, que ajudou na procura por vítimas da tragédia em Brumadinho (MG), outros cães farejadores, drones e helicópteros são usados para encontrar pistas relacionadas ao fugitivo. Até a noite de ontem, porém, as estratégias não geraram resultados.
Questionado sobre os dias de operação sem sucesso, o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Rocha Miranda, afirmou que há diversos obstáculos. “Na mata fechada, é difícil que ele seja visto por um helicóptero ou identificado por um drone. Gerenciamento de crise precisa de paciência. Nossa primeira intenção é não deixá-lo fazer mais vítimas e, depois, tirá-lo daqui. Ele tem mantido o padrão e, a cada dia, está mais desgastado e cometendo erros. É com esses erros que vamos pegá-lo”, declarou.
A polícia suspeita de que Lázaro tenha caminhado próximo ao curso de rios, principalmente para despistar cães farejadores. O tenente Milson Fernandes, do Corpo de Bombeiros Militar de Goiás (CBMGO), mencionou outros desafios, apesar do emprego de diferentes ferramentas: “Usamos esses equipamentos em incêndios na vegetação, operações aquáticas, assim como para buscas e salvamentos, mas quando a pessoa quer ser achada”.
Rodney afirmou que Lázaro é extremamente perigoso e que não vai se entregar. Além disso, lembrou que a tática de fuga é semelhante à adotada pelo suspeito em 2007. “Esse modus operandi dele se repetiu na Bahia, quando ficou 15 dias no meio do mato sem comida e sem água. Aqui (em Cocalzinho), ele ainda acessa algumas propriedades”, destacou. “Mas todos (das equipes estão) motivados e aguerridos. Tentei fazer substituição (de pessoal) para alguns descansarem, mas eles se recusam a ir embora até o Lázaro ser capturado”, completou o chefe da pasta.
Questionada sobre as táticas, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) informou que não passa outros detalhes sobre métodos de busca ou equipamentos usados, para evitar o comprometimento da força-tarefa.