O clorpirifós é um agrotóxico que surgiu para substituir o devastador DDT na agricultura e é usado há mais de 50 anos – mas é cada vez mais contestado pelos efeitos nocivos à saúde e ao meio ambiente. Segundo especialistas, ele deixa traços nos alimentos e, no organismo humano, causa danos como distúrbios hormonais, deficiência mental irreversível nos fetos e diminuição de até 2,5 pontos de QI (quociente de inteligência) das crianças.
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O produto combate larvas e insetos e foi banido de oito países europeus. A sua licença para a utilização agrícola na União Europeia se aproxima do fim e o prazo, janeiro de 2020, levantou o debate sobre a pertinência de renovar a autorização. Segundo o jornal francês Le Monde, a Comissão Europeia estuda não validar a permissão.
Uma das maiores especialistas em perturbadores hormonais do mundo, a pesquisadora Barbara Demeneix, do Laboratório de Evolução dos Reguladores Endócrinos de Paris, avalia que, se se concretizar, a medida já virá tarde.
“Nós esperamos muito que seja proibido na Europa, depois de tantos estudos não só sobre o impacto nas crianças, mas também no meio ambiente”, sustenta Demeneix. “Uma pesquisa incrível mostrou os efeitos desse químico nos peixes-corais. O estudo foi muito claro em demonstrar o quanto o clorpirifós afeta os hormônios da tireoide, portanto o desenvolvimento de todos os vertebrados. Está claro que há impactos não só no homem, como na biodiversidade.”
Uso crescente no Brasil
Nos Estados Unidos, seis estados estão em vias de barrar o inseticida na agricultura. Ele esteve prestes a ser interditado do território nacional, antes de Donald Trump assumir a Casa Branca.
No Brasil, ele já foi um dos inseticidas mais utilizados e a sua aplicação nas lavouras não só é permitida, como vem aumentando nos últimos anos. Em 2009, foram vendidas 3 toneladas do produto, segundo monitoramento do Ibama. Oito anos depois, as vendas ultrapassaram as 6,4 toneladas.
O pesquisador Armando Meyer, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, frisa que existem alternativas ao clorpirifós. “É gravíssimo porque, em nenhuma medida, uma substância química deveria passar por cima e comprometer a cognição das nossas crianças, por mais que ela possa contribuir para o desenvolvimento de um país. É algo inimaginável, ainda mais porque existem diversas alternativas no mercado que cumprem a mesma função do clorpirifós”, ressalta Meyer. “Mas, em agrotóxicos, tudo é uma questão de custo-benefício. E saúde será sempre um custo no uso dos agrotóxicos.”
O clorpirifós é eficiente porque, nos insetos, atinge o funcionamento de um neurotransmissor fundamental ao sistema nervoso central, a acetilcolina. O problema é que diversos outros seres vivos também possuem esse circuito – entre eles, os humanos. Além disso, o agrotóxico é um perturbador hormonal que atinge a tireoide – cujos hormônios das mulheres grávidas são fundamentais para o desenvolvimento do cérebro do feto.
Queda do QI
Os riscos são diretamente proporcionais à exposição direta ao produto. Os únicos estudos empíricos realizados no mundo sobre o seu impacto na inteligência humana foram feitos nos Estados Unidos. O último deles, publicado em março, mostrou o aumento da frequência de autismo e lesões cerebrais em filhos de mães que vivem a menos de 2 quilômetros dos locais de pulverização.
A pesquisa mais importante, feita na Universidade de Columbia em 2012, provou que, num grupo de 40 crianças de até 11 anos, quanto mais elas foram expostas ao agrotóxico durante a gravidez, menor era o tamanho dos seus córtex cerebrais. Aos três anos, elas apresentavam deficiências motoras e cognitivas, como hiperatividade ou déficit de atenção. A redução do QI foi constatada aos sete e associada ao contato das mães com o clorpirifós durante a gestação.
A tese de doutorado de Meyer foi sobre os efeitos do químico nos ratos. Ele comprovou que a exposição dos recém-nascidos ao produto também gera danos cerebrais. “As evidências científicas sobre a relação entre o clorpirifós e a alteração do desenvolvimento do sistema nervoso são muito contundentes, tanto em experimentação animal quanto em estudos epidemiológicos, em seres humanos. De fato, essa é uma substância que deveria estar fora do contato com humanos”, atesta o pesquisador brasileiro.
O uso doméstico do produto é proibido na maioria dos países há mais de 20 anos.
O pesquisador Armando Meyer, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, frisa que existem alternativas ao clorpirifós. “É gravíssimo porque, em nenhuma medida, uma substância química deveria passar por cima e comprometer a cognição das nossas crianças, por mais que ela possa contribuir para o desenvolvimento de um país. É algo inimaginável, ainda mais porque existem diversas alternativas no mercado que cumprem a mesma função do clorpirifós”, ressalta Meyer. “Mas, em agrotóxicos, tudo é uma questão de custo-benefício. E saúde será sempre um custo no uso dos agrotóxicos.”
O clorpirifós é eficiente porque, nos insetos, atinge o funcionamento de um neurotransmissor fundamental ao sistema nervoso central, a acetilcolina. O problema é que diversos outros seres vivos também possuem esse circuito – entre eles, os humanos. Além disso, o agrotóxico é um perturbador hormonal que atinge a tireoide – cujos hormônios das mulheres grávidas são fundamentais para o desenvolvimento do cérebro do feto.
Queda do QI
Os riscos são diretamente proporcionais à exposição direta ao produto. Os únicos estudos empíricos realizados no mundo sobre o seu impacto na inteligência humana foram feitos nos Estados Unidos. O último deles, publicado em março, mostrou o aumento da frequência de autismo e lesões cerebrais em filhos de mães que vivem a menos de 2 quilômetros dos locais de pulverização.
A pesquisa mais importante, feita na Universidade de Columbia em 2012, provou que, num grupo de 40 crianças de até 11 anos, quanto mais elas foram expostas ao agrotóxico durante a gravidez, menor era o tamanho dos seus córtex cerebrais. Aos três anos, elas apresentavam deficiências motoras e cognitivas, como hiperatividade ou déficit de atenção. A redução do QI foi constatada aos sete e associada ao contato das mães com o clorpirifós durante a gestação.
A tese de doutorado de Meyer foi sobre os efeitos do químico nos ratos. Ele comprovou que a exposição dos recém-nascidos ao produto também gera danos cerebrais. “As evidências científicas sobre a relação entre o clorpirifós e a alteração do desenvolvimento do sistema nervoso são muito contundentes, tanto em experimentação animal quanto em estudos epidemiológicos, em seres humanos. De fato, essa é uma substância que deveria estar fora do contato com humanos”, atesta o pesquisador brasileiro.
O uso doméstico do produto é proibido na maioria dos países há mais de 20 anos. (RFI)